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SOS Voz Amiga associa-se a Dia Mundial da Prevenção do Suicídio com jornada contínua de 48 horas

LUSA
09-09-2025 13:05h

A linha SOS Voz Amiga, que apoia pessoas em risco de suicídio, iniciou às 00:00 de hoje uma jornada de 48 horas de atendimento contínuo, um esforço dos voluntários para assinalar o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.

Fazendo um balanço à agência Lusa das primeiras horas da jornada, o presidente da Associação Voz Amiga, Francisco Paulino, disse que, entre a meia-noite e as 08:00, houve três chamadas.

“[Este número] diz-nos que o sofrimento não tem hora”, disse o presidente da associação responsável pela linha, alertando que este número acontece numa altura em que a jornada de 48 horas ainda não teve divulgação no ‘media’.

A SOS Voz Amiga é uma linha de apoio emocional que visa ajudar pessoas em situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão ou em risco de suicídio e funciona diariamente das 15:30 às 00:30 (213544545, 912802669, 963524660 e 930712500).

Francisco Paulino explicou que a jornada contínua, que termina às 24:00 de quarta-feira, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, tem a ver com a necessidade de divulgar e informar a população sobre um tema que “é muito sensível”.

“Os números são cada vez mais preocupantes e fazermos 48 horas de jornada contínua, algo que é um esforço exercido pelos voluntários, porque só conseguimos fazer nove horas diárias, faz-nos todo o sentido, pois informar, divulgar, nunca é demais para que as pessoas possam saber onde procurar ajuda em caso de necessidade”, afirmou.

Questionado se faz sentido a SOS Voz Amiga continuar a existir com a entrada em funcionamento, na quarta-feira, da Linha Nacional para a Prevenção do Suicídio e de Comportamentos Auto Lesivos, gratuita e a funcionar 24 horas por dia, Francisco Paulino afirmou que “podem coexistir perfeitamente”.

“Esta nova linha é necessária e nós aplaudimos o seu surgimento (…) porque vai atender uma série de pessoas durante o dia inteiro, porque o sofrimento não tem hora”, realçou.

“Retira-nos o constrangimento de sabermos que não conseguimos atender todas as chamadas, porque estamos limitados ao nosso horário de nove horas diárias”, acrescentou.

Francisco Paulino destacou também a mais-valia do serviço que dirige assentar no anonimato, na confidencialidade das chamadas.

“O nosso acolhimento é um pouco diferente. Nós não somos técnicos de saúde mental, a nossa linguagem é mais próxima das pessoas que nos ligam”, disse, ressalvando não estar a criticar a linguagem dos psicólogos, sendo apenas “um acolhimento diferente”.

Sobre a procura da Linha, o responsável referiu que houve uma alteração deste a pandemia da covid-19, com um crescimento no número de chamadas.

“Antes da pandemia, atendíamos cerca de 600 chamadas por mês. Na pós-pandemia, começámos a atender entre 900 e 1.000 chamadas por mês, porque quem estava mal ficou pior e surgiram muitas outras situações de ansiedade e depressão”, referiu.

Surgiram ainda chamadas realizadas por menores de 20 anos, o que “não era hábito” antes da pandemia.

“Estamos a receber chamadas de jovens de 12 e 13 anos. Jovens que nos dizem que estão fartos da vida, o que é um valente murro no estômago”, lamentou.

A situação também é preocupante porque, apesar de a linha estar disponível, “o telefone não é o meio preferido dos jovens para se manifestarem”.

“Sabemos que eles andam mais nas redes sociais. Muitos perguntam se não temos um serviço de resposta para o WhatsApp, que não conseguimos ter”, disse, comentando que “os voluntários mal chegam para atender o telefone” e, como tal, “isto seria uma necessidade a pensar”.

As situações que motivam mais apelos à SOS Voz Amiga, a linha telefónica de apoio emocional mais antiga de Portugal, que completa 47 anos em outubro, são a depressão, ansiedade, comportamentos autolesivos, esquizofrenia e a solidão.

Segundo o responsável, são as mulheres com mais de 60 anos quem mais liga a queixar-se de solidão, mas também há muitos jovens, agentes de autoridade que foram colocados longe das famílias, trabalhadores sazonais e emigrantes.

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