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Sociedade Portuguesa do AVC contra alterações na prescrição de injetáveis e sensores para diabetes

Lusa
17-08-2025 21:18h

A Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC) manifestou-se este sábado contra a decisão de restringir a prescrição de injetáveis e sensores para diabetes a quatro especialidades médicas, apelando à revisão urgente da medida.

Em comunicado, a direção da SPAVC “apela à revisão urgente desta decisão, alargando a possibilidade de prescrição a todas as especialidades diretamente envolvidas no tratamento do AVC e no controlo dos fatores de risco vasculares, de modo a garantir cuidados mais completos e centrados no doente”.

Desde 08 de agosto que apenas os médicos das especialidades de Endocrinologia e Nutrição, Medicina Interna, Pediatria e Medicina Geral e Familiar estão autorizados a prescrever sensores de monitorização da glicose intersticial e medicamentos da classe dos agonistas dos recetores GLP-1 (semaglutido, dulaglutido, liraglutido e exenatido).

Nesta classe de fármacos inclui-se o Ozempic, desenvolvido para tratar a diabetes tipo 2, mas que está também a ser usado para combater a obesidade e ajudar à perda de peso.

No despacho que institui a medida, o Ministério da Saúde justifica a decisão com “as dificuldades amplamente reconhecidas" no acesso a estas terapêuticas e com os relatos de uso indevido destes recursos, sendo o objetivo “regular e corrigir essas distorções, promovendo um acesso efetivo e adequado a essas ferramentas essenciais à saúde”.

A SPAVC, na nota hoje divulgada, argumenta que o AVC é a principal causa de morte em Portugal e que “a diabetes é um dos seus mais relevantes fatores de risco modificáveis”, pelo que “limitar a prescrição de terapêuticas e tecnologias eficazes a apenas algumas especialidades compromete a necessária abordagem multidisciplinar e integrada”.

“Ademais, os análogos do GLP-1 ajudam, também, no controlo da dislipidemia e da hipertensão arterial e demonstrou-se o seu efeito na redução do risco de AVC e sua recorrência, um efeito verificado nos primeiros três meses após evento. O caminho não deverá passar por restringir a prescrição a quem pode beneficiar, mas sim promover orientações informadas para uma correta e atempada prescrição”, reforça a associação.

A SPAVC considera positivo que os médicos de Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar e Endocrinologia continuem a poder prescrever estes fármacos e dispositivos, mas diz ser “inaceitável a exclusão de especialidades que desempenham um papel fundamental na prevenção e tratamento do acidente vascular cerebral e no controlo dos seus fatores de risco”.

“Mais ainda especialidades como, por exemplo, a Neurologia e Cardiologia que contribuíram de modo muito ativo em Portugal para a implementação, desenvolvimento e validação desses fármacos em ensaios clínicos”, acrescenta.

A Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral refere também o papel essencial da Nefrologia e da Cirurgia Vascular “no controlo dos fatores de risco vasculares”, vincando que deveriam estar incluídas, “dado o impacto da diabetes na doença aterosclerótica e no risco de eventos cerebrovasculares”.

No dia em que a medida entrou em vigor, também a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) alertou que a exclusão da especialidade na nova portaria compromete a prevenção de eventos cardiovasculares.

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