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Médio Oriente: Médicos palestinianos denunciam situação de colapso total em Gaza

Lusa
08-08-2025 21:40h

Médicos palestinianos denunciaram hoje a quase total falta de recursos com que trabalham em Gaza, enquanto prestam cuidados dia e noite, sem poderem comer, enfrentando uma situação de colapso total do sistema devido à ofensiva israelita.

"Não estamos a perder vidas apenas devido ao trauma, estamos a perder vidas porque não podemos prestar tratamento básico", denunciou o médico da linha da frente Majed Jaber, numa conferência de imprensa virtual na Faixa de Gaza, citado pela agência EFE.

Majed Jaber disse que a falta de tratamentos e medicamentos mais básicos leva a que tenham de decidir quem recebe injeções e quem merece um simples analgésico.

O médico da linha da frente sublinhou que ele e os colegas estão exaustos, porque passam dias sem comer e é difícil encontrar água potável, sendo que não dormem o suficiente. "Quase não há médicos para atender o enorme número de doentes", afirmou.

"O que está a acontecer aqui em Gaza não é apenas uma crise humanitária. É um desmantelamento deliberado da vida. E estamos a tentar manter as pessoas vivas de mãos vazias", denunciou o médico de Gaza, numa aparição 'online', em que foi obrigado a ausentar-se por ver os bombardeamentos israelitas a aproximarem-se.

"Não há sistema de saúde em Gaza, temos de parar de dizer que o sistema de saúde em Gaza entrou em colapso, porque não existe nenhum sistema de saúde em Gaza”, lamentou o coordenador médico adjunto dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Gaza, Mohammed Abu Mughaisib.

O médico da organização não governamental MSF disse que os pontos de distribuição de ajuda são locais de "massacres orquestrados" da organização americana-israelita Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), enquanto descrevia a situação nos hospitais de campanha da organização, que se reflete no relatório desta semana.

"Desde que a GHF começou a distribuir, em maio, começámos a ver muitos mais doentes nas nossas instalações", disse o médico dos MSF.

Os hospitais de campanha receberam 1.380 doentes desde 07 de junho, 28 pessoas mortas, a maioria com ferimentos de bala, acrescentou Mohammed Abu Mughaisib.

"Estamos a pedir o encerramento da GHF, porque não é propriamente uma distribuição, é uma armadilha mortal", lamentou o médico dos MSF.

Na conferência de imprensa participou também a responsável pela nutrição da Med Global no norte de Gaza, uma zona de muito difícil acesso devido aos planos de expansão do exército israelita.

A responsável pela nutrição, Rana Soba, denunciou a "fome que já está a matar silenciosamente".

"O que testemunhei no norte de Gaza é mais do que alarmante. Estamos a assistir a um aumento drástico e perigoso da subnutrição aguda grave em crianças com menos de cinco anos", alertou.

Para a presidente do conselho de administração da organização Médicos pelos Direitos Humanos em Israel, Lina Qassam Hassan, a situação "equivale a um genocídio".

"O bombardeamento de hospitais por Israel, o ataque a profissionais de saúde, a destruição de equipamentos médicos e a escassez de medicamentos tornaram os cuidados médicos (...) praticamente impossíveis", alertou Lina Qassam Hassan.

Detenções em massa ocorreram em vários hospitais, como o Hospital Al Shifa, na cidade de Gaza, onde o exército deteve dezenas de médicos num ataque em dezembro de 2023. A responsável sublinhou que ocorreram outros ataques.

"Mais de 300 médicos, enfermeiros e paramédicos foram detidos no total. Até hoje, mais de 100 [profissionais de saúde] continuam detidos, incluindo 25 médicos", denunciou a presidente da organização médica.

Lina Qassam Hassan disse que nenhum deles foi acusado de qualquer crime, e que durante o período na prisão, foram torturados, espancados, passaram fome e não podiam dormir, sublinhando que foram ainda alvo de agressões psicológicas e sexuais.

"Estas detenções em massa devastaram o já frágil sistema de saúde de Gaza, como parte de uma estratégia mais ampla para destruir as infraestruturas médicas", acusou Lina Qassam Hassan.

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