Os profissionais de saúde do Hospital Provincial de Pemba, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, paralisaram hoje as atividades e marcharam para reivindicar o pagamento de horas extraordinárias em atraso, subsídios de risco e de turno.
A greve na maior unidade de saúde de Cabo Delgado ocorreu esta manhã e durou cerca de duas horas, com os profissionais a marchar e a exibir dísticos e cartazes à frente do hospital, reivindicando o pagamento de horas extras e subsídios em atraso referentes ao período entre 2022 e 2024.
“Estamos aqui nesse dilema, quando surgem os pagamentos há um grupinho que é pago (…), nós já falamos com a direção várias vezes na verdade”, disse aos jornalistas o enfermeiro Tadeu Mangasse, referindo que a direção do hospital tem vindo a prometer resolver o problema, mas que a solução "nunca chega”.
“[Subsídio de] turno não me pagam, [subsídio de] risco não me pagam (…) e sou funcionária do aparelho do Estado e estou a sentir”, acrescentou também a funcionária Marieta Culuco.
O setor da saúde enfrenta, há três anos, greves e paralisações, por melhorias das condições de trabalho, convocadas pela Associação Médica de Moçambique (AMM) e a Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), tendo as mais recentes sido convocadas por médicos afetos ao Hospital Central de Nampula (HCN), também no norte de Moçambique e do Hospital Central de Maputo (HCM), na capital moçambicana, todas reivindicando também o pagamento de horas extraordinárias.
Em 04 de agosto, os profissionais de saúde moçambicanos alertaram também para “deficiências alarmantes” no fornecimento de medicamentos nas unidades sanitárias e pediram a nomeação de uma nova equipa para dialogar no âmbito das conversações com o Governo para acabar com paralisações.
“Apesar de alguns esforços do Governo em disponibilizar medicamentos, esses têm sido insuficientes. Persistem deficiências alarmantes na cadeia de fornecimento, prejudicando gravemente o funcionamento dos serviços de saúde”, alertou a APSUSM, em comunicado.
No documento, a APSUSM, que abrange cerca de 65.000 profissionais de saúde de diferentes departamentos, indicou que persiste também a falta de materiais básicos nas maternidades, como luvas, óculos de proteção e itens descartáveis, ausência de saneamento nas unidades sanitárias e ambulâncias sem combustível.
Os profissionais de saúde apontaram ainda a contínua falta de alimentação para doentes nos hospitais e “condições precárias” para a classe, que comprometem a prestação do serviço à população, acusando o Governo de continuar a “ignorar” a carta reivindicativa da APSUSM.
“É urgente que seja nomeada uma nova equipa para diálogo, com capacidade técnica, sensibilidade institucional e real interesse na resolução dos problemas apresentados. A equipa atual tem demonstrado inércia, ineficiência e desorganização”, referiu a associação.
O Presidente moçambicano prometeu, em 12 de maio, dia do enfermeiro, continuar a investir na melhoria das condições de trabalho e no reconhecimento da carreira dos profissionais de saúde, no mesmo dia em que o ministro da Saúde pediu diálogo para travar greves no setor.
O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.