A sexta reunião de negociações para tentar alcançar um tratado contra os plásticos iniciou-se hoje em Genebra, na Suíça, com um apelo à responsabilidade dos cerca de 180 países participantes para acabar com esta poluição.
"A poluição plástica danifica os ecossistemas, polui os nossos oceanos e rios, ameaça a biodiversidade, afeta a saúde humana e sobrecarrega injustamente os mais vulneráveis. A emergência é real, as evidências são claras e a responsabilidade é nossa", declarou Luis Vayas Valdivieso, que preside aos debates, na abertura oficial das discussões.
Os países terão 10 dias – a reunião designada de segunda parte da quinta sessão do Comité de Negociação Intergovernamental das Nações Unidas (INC5-2) termina dia 14 – para chegar a acordo e conter uma “crise global”.
"Têm pela frente dez dias de negociações intensas. Sabem que serão noites longas, mas devem manter uma grande determinação e espírito de solidariedade para alcançar soluções e acordos mútuos", adiantou a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Inger Andersen.
A responsável da agência ambiental das Nações Unidas, que ordenou a criação de um comité de negociação sobre a poluição por plástico, alertou que esta poluição "já está presente na corrente sanguínea" das pessoas e que, ao ritmo atual, vai aumentar em todo o mundo.
As negociações do acordo vinculativo iniciaram-se em 2022 e durante estes três anos já se realizaram cinco rondas, a últimas das quais no final de 2024, em Busan, na Coreia do Sul, que fracassou devido ao bloqueio de um grupo de países produtores de petróleo.
De acordo com a ONU, 17 milhões de barris de petróleo são usados para a produção de plástico todos os anos.
Segundo fontes ouvidas pela agência Lusa nas vésperas do início da reunião, as negociações, nas quais também participará uma delegação portuguesa, iniciam-se com um impasse entre o acordo ficar limitado à gestão de resíduos plásticos ou vir a adotar metas concretas e obrigatórias de redução da sua produção até 2040.
“Temos uma expectativa muito grande, depositamos esperanças neste tratado global e esta reunião é uma oportunidade de todo o mundo combater a poluição dos plásticos”, disse à Lusa a coordenadora do Pacto Português para os Plásticos, Patrícia Carvalho.
Inserido no bloco da União Europeia, o Pacto Português para os Plásticos “preconiza um tratado ambicioso, que abranja o ciclo de vida dos plásticos, desde a produção até ao seu tratamento, a redução naquilo que é possível através da responsabilização dos produtores, e a eliminação de colocação de substâncias perigosas nos plásticos”, defendeu.
Num relatório publicado na segunda-feira na revista científica The Lancet, cientistas alertam para o facto de a poluição por plástico ser um risco "grave, crescente e subestimado" para a saúde, que custa ao mundo pelo menos 1.500 mil milhões de dólares (quase 1.300 mil milhões de euros) anualmente.
Segundo Philip Landrigan, médico e investigador do Boston College, nos Estados Unidos, as pessoas vulneráveis, sobretudo as crianças, são as mais afetadas pela poluição por plásticos.
A maioria dos plásticos permanece intacta durante décadas após a sua utilização, os que se desgastam acabam por se transformar em microplásticos, consumidos por peixes e outros animais marinhos, entrando rapidamente na cadeia alimentar global.
Segundo a ONU, trata-se de “uma catástrofe ambiental global” e já se “vive uma crise de saúde, com microplásticos e nanoplásticos cada vez mais presentes no corpo humano”.