O presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve manifestou hoje a sua “incompreensão” perante os argumentos invocados para três sindicatos convocarem uma greve de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde para quinta-feira.
A paralisação de 24 horas, anunciada na passada semana, abrange médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde do Algarve, em protesto contra a falta de profissionais e o agravamento das condições de trabalho.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da administração da ULS do Algarve, Tiago Botelho, manifestou a sua “profunda incompreensão” quanto aos motivos invocados pelos sindicatos, considerando que, na sua origem, estão estruturas que atuam por razões políticas.
“É preciso perceber que ela é convocada por três organizações sindicais, de diferentes áreas profissionais, é um facto, mas todas elas ligadas à mesma central sindical e à mesma força político-partidária”, afirmou Tiago Botelho, referindo-se ao Partido Comunista Português (PCP).
A greve prevista para quinta-feira foi convocada pelo Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS-FNAM), pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e pelo Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas do Sul e das Regiões Autónomas.
O administrador hospitalar rejeitou haver falta diálogo com os trabalhadores, como invocam os sindicatos, e assegurou que as reuniões que manteve com o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, com a Ordem dos Enfermeiros e, inclusivamente, com o próprio SEP, demonstram que é “falso” o argumento.
“E, portanto, estes três sindicatos, estas três organizações que gravitam na esfera do Partido Comunista, a nós parece-nos muito pouco razoável os motivos que apresentam para justificar a greve”, considerou Tiago Botelho, argumentando que muitas matérias invocadas “não respeitam especificamente à ULS do Algarve”, são “de política geral” e “competem ao Governo”.
O administrador da unidade algarvia considerou também que a alegação de não haver diálogo com o Governo é “injusta”, porque o executivo “tem estado, de facto, a dialogar com os sindicatos e as forças representativas dos trabalhadores”, justificou.
Tiago Botelho disse que a ULS do Algarve está a “aplicar o resultado dessas negociações” e deu o exemplo da classe dos enfermeiros, cuja massa salarial cresceu 11,5 milhões de euros nos primeiros cinco meses do ano, comparativamente ao período homólogo de 2024.
“Portanto, de janeiro a maio de 2025, comparativamente com janeiro a maio de 2024, este conselho de administração pagou à carreira de enfermagem desta instituição, que são cerca de 2.340 enfermeiros, mais 11,5 milhões de euros, o que dá quase, em média, cerca de 5.000 mil euros a cada um”, quantificou.
Tiago Botelho frisou que a ULS está também a aplicar acordos com outras carreiras profissionais “com quem o Governo já fechou negociações” e que a “massa salarial cresceu 17,7 milhões de euros” no acumulado de janeiro a maio a maio de 2025, em relação ao período homólogo de 2024.
“Temos quase 18 milhões de euros, ou seja, dinheiro a mais que estamos a entregar aos trabalhadores desta casa. E, portanto, de facto, não conseguimos compreender aquilo que se diz”, defendeu, reconhecendo que há uma crónica falta de profissionais na região e assegurando que a ULS está a contratar quem queira trabalhar na região.
A greve, marcada para o período entre as 00:00 e as 23:59 de quinta-feira, abrange os serviços de saúde do distrito de Faro e os trabalhadores exigem, entre outras reivindicações, a contratação de mais profissionais para travar o desgaste a que dizem estar a ser sujeitos na região.