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Médio Oriente: Catástrofe em Gaza lembra cenários de fome na Etiópia e no Biafra - ONU

29-07-2025 13:57h

O diretor de emergências do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, Ross Smith, comparou hoje a catástrofe humanitária na Faixa de Gaza às situações de fome registadas na Etiópia e no Biafra no século passado.

“Isto é diferente de tudo o que temos visto neste século. Lembra-nos as catástrofes que ocorreram na Etiópia ou no Biafra no século passado”, disse o representante aos jornalistas em Genebra (Suíça), sublinhando a necessidade de uma “ação urgente”.

Smith referia-se à situação de fome na Etiópia em 1983-1984, que matou mais de um milhão de pessoas, e à fome durante a Guerra do Biafra (com a Nigéria), entre 1967 e 1970, que também matou mais de um milhão de pessoas.

“Precisamos de uma ação urgente, agora”, defendeu.

As declarações do responsável do PAM foram feitas na sequência do anúncio pela Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), o principal organismo global de monitorização da fome que é apoiado pela ONU, de que “o pior cenário de fome está a desenrolar-se na Faixa de Gaza”.

Foram atingidos “limites de fome (…) na maior parte da Faixa de Gaza”, referiram os especialistas deste sistema de monitorização usado por agências humanitárias internacionais para determinar o nível de fome num país ou região.

“O acesso humanitário imediato e irrestrito” a Gaza é a única forma de impedir o rápido agravamento “da fome e da morte”, considerou Ross Smith, sublinhando: “Está uma catástrofe a desenrolar-se diante dos nossos olhos, nos nossos ecrãs de televisão”.

“Isto não é um aviso: é um apelo à ação”, enfatizou.

O alerta do IPC não constitui uma declaração formal de fome, situação muito rara e que precisa de dados e mobilidade interna que não é possível ter em Gaza atualmente, mas pretende chamar a atenção para a crise com base nos “últimos dados disponíveis” até 25 de julho.

“Os indicadores de consumo alimentar e nutrição atingiram agora o nível mais baixo desde o início do conflito”, desencadeado pelo ataque do grupo islamita Hamas a Israel, a 07 de outubro de 2023, observou o diretor de Segurança Alimentar e Análise Nutricional do PAM, Jean-Martin Bauer.

“Em julho, pela primeira vez desde o início da crise, os níveis de subnutrição ultrapassaram o limiar da fome na Cidade de Gaza”, acrescentou.

“O que estamos a ver são provas crescentes de que a fome está em curso. Todos os sinais estão lá”, sublinhou, defendendo a necessidade de “ações imediatas para evitar um sofrimento humano grave”.

A situação é particularmente grave para as mulheres e raparigas, observou, por seu lado, a organização ONU Mulheres.

“As mulheres e as raparigas enfrentam uma escolha impossível: morrer de fome nos seus abrigos ou aventurar-se em busca de comida e água, correndo o risco extremo de serem mortas”, descreveu a porta-voz da agência, Sofia Calltorp, numa conferência de imprensa hoje realizada em Genebra.

“As crianças estão a morrer de fome diante dos nossos olhos”, disse.

No fim de semana, Israel declarou uma “pausa tática” nas operações militares em partes da Faixa de Gaza, alegando que mais de 120 camiões carregados de alimentos foram autorizados a entrar no enclave palestiniano, enquanto alguns países, como a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos, efetuaram lançamentos aéreos de ajuda.

Mas, de acordo com Ross Smith, o transporte aéreo de ajuda não permite a entrega das mesmas quantidades que por via rodoviária, e os lançamentos aéreos são perigosos para a população, uma vez que as pessoas correm o risco de serem atingidas pelos caixotes lançados pelas aeronaves em zonas de grande aglomeração de civis.

“Isto representa um risco extremo para a população”, avisou, referindo que já houve feridos.

“Embora aprecie o significado simbólico [dos lançamentos aéreos], não é uma solução do ponto de vista prático”, acrescentou, apelando a que mais camiões de ajuda sejam autorizados a entrar no enclave palestiniano.

A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

A retaliação de Israel já provocou mais de 60 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 140 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.

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