O presidente do Hospital Santa Maria explicou hoje que a substituição do diretor clínico não está relacionada com o caso do dermatologista que terá recebido milhares de euros por trabalho adicional, adiantando que não há processos disciplinares a decorrer.
“A ortopedia não é uma preocupação de agora. A ortopedia é uma preocupação que temos desde o ano passado, sobretudo quando saíram - pós-verão - seis médicos, seis especialistas”, disse aos jornalistas Carlos Martins, após reunir-se com o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes, na unidade hospitalar, em Lisboa.
De acordo com o presidente da administração da unidade local de saúde (ULS) Santa Maria, o ainda diretor, que iniciou funções em janeiro, tem feito “um grande esforço” com os médicos “para reorganizar o serviço”.
“Não encontrámos as soluções que pretendíamos, designadamente atrairmos novos médicos. Só conseguimos atrair um. Vamos assinar agora mais três contratos (…)”, indicou, lembrando que, no primeiro semestre, o hospital atraiu o “limite mínimo” de oito clínicos necessários.
O responsável adiantou que, mais do que a falta de capital humano, está em curso uma reorganização do serviço.
“Foi isso que foi tratado com o diretor de serviço quando apresentou a carta de demissão. Não se demitiu, apresentou a carta de demissão, a dizer que não tem condições, o plano que tinha não está a resultar. Em contrapartida a essa posição, apresentamos seis medidas que pedimos ao diretor de serviço, para analisá-las com os médicos”, realçou.
Entre as medidas apresentadas, Carlos Martins destacou a necessidade conseguir “alguma descompressão” para retomar a atividade normal, alargar a produção adicional para recuperar a lista de espera e atuar sobre a necessidade captar mais médicos.
“O diretor da Ortopedia apresentou a sua admissão, mas manifestou de imediato a sua disponibilidade para continuar [no cargo], enquanto não for substituído, ou para recuar, (…) se as condições se alterassem”, acrescentou.
Em declarações à Lusa, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá, classificou a demissão do diretor do serviço de Ortopedia do Santa Maria, Paulo Almeida, como “mais um grito de alerta” para o esgotamento dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Na ocasião, Joana Bordalo e Sá lembrou que esta decisão se seguiu à apresentação de escusas às horas extraordinárias por parte de 12 ortopedistas do mesmo hospital.
Já o bastonário da OM disse que motivo principal da demissão do diretor do serviço de Ortopedia tem a ver com a “falta de recursos médicos para assegurar o serviço de urgência e a atividade normal”.
Carlos Cortes recordou hoje a incapacidade de todas as ULS em conseguir captar especialistas.
“Enquanto o SNS não for atrativo, enquanto não existirem condições adequadas de condições de trabalho, de formação, de valorização da carreira médica, condições remuneratórias, esta situação vai agravar-se cada vez mais”, afirmou.
O bastonário acrescentou que o serviço de Ortopedia da ULS Santa Maria “deveria ter mais oito médicos especialistas para poder dar uma resposta adequada”, considerando como “uma situação muito grave” o que está a acontecer.
“O Hospital Santa Maria é um grande hospital que tem que ter uma capacidade de resposta máxima em todas as áreas, nomeadamente áreas diferenciadas e na resposta de urgência”, ressalvou.