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Covid-19: Exclusividade de médicos no SNS poderá pôr em risco doentes em hemodiálise

LUSA
17-03-2020 14:56h

Um grupo de clínicos considerou hoje que a decisão de impor a exclusividade no SNS aos profissionais que trabalham com pacientes que dependem de hemodiálise impedirá a prestação de serviços essenciais à sobrevivência de uma percentagem significativa de cidadão.

Num comunicado enviado à Lusa, na sequência das medidas anunciadas para combater o novo coronavírus, o internista Paulo Bettencourt (professor da Faculdade de Medicina do Porto), o nefrologista Mário Silva Oliveira e a médica Conceição Castro, (ambos do Centro de Hemodiálise São João da Madeira) apelam a que sejam adotadas “as medidas necessárias para evitar este risco, o qual, por si só, poderá aumentar consideravelmente a letalidade e morbilidade associada, ainda que indiretamente, à atual pandemia”.

“Se os centros de hemodiálise privados forem impedidos de contar com os serviços de profissionais que também trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS), por via de uma exclusividade obrigatória resultante das medidas implementadas para responder à pandemia do novo coronavírus, muitos doentes com insuficiência renal crónica deixarão de poder ser submetidos a um tratamento essencial à sua sobrevivência – a hemodiálise crónica”, alertam.

Os subscritores do documento referem que em Portugal existem atualmente 124 unidades de hemodiálise em ambulatório, que asseguram o tratamento, bem como cuidados de saúde primários, a cerca de 12.000 doentes.

“Foi amplamente divulgado o esforço para colmatar as falhas que todos pressentimos, a preocupação de criar condições adequadas à batalha contra um fenómeno duma dimensão nunca enfrentada nos últimos 100 anos, quer com a aquisição de ventiladores suplementares, a criação de hospitais de campanha, a convocação, em exclusivo, de todos os profissionais de saúde, sendo até salvaguardada a eventual necessidade de atribuição de horas extraordinárias bem para além dos atuais limites legais”, sublinham.

Contudo, acrescentam, “também todos temos consciência de que, por opções do passado, há setores da saúde essenciais à sobrevivência dos doentes que são, de momento, prestados quase exclusivamente pelo setor privado”.

Segundo os especialistas, “estes últimos laboram com recurso a profissionais que também desempenham funções no SNS. A decisão de impor a exclusividade no SNS a estes profissionais impedirá a prestação de variados tipos de serviços essenciais à sobrevivência de uma percentagem significativa de cidadão portugueses, em particular os que padecem de doenças crónicas. Está neste caso a Doença Renal Crónica e a terapêutica de substituição da função renal por hemodiálise”.

O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou mais de 180.000 pessoas, das quais mais de 7.000 morreram e 75.000 recuperaram.

O surto começou em dezembro na China, que regista a maioria dos casos, e espalhou-se entretanto por mais de 145 países e territórios. Na Europa há mais 67.000 infetados e pelo menos 2.684 mortos, a maioria dos quais em Itália, Espanha e França.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje número de casos confirmados de infeção para 448, mais 117 do que na segunda-feira, dia em que se registou a primeira morte no país.

Dos casos confirmados, 242 estão a recuperar em casa e 206 estão internados, 17 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos. Há ainda a assinalar mais 4.030 casos suspeitos até hoje, dos quais 323 aguardam resultado laboratorial.

Do total de cidadãos infetados em Portugal, três recuperaram.

O país está em estado de alerta desde sexta-feira, tendo o Governo colocado os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.

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