O reverendo norte-americano Johnny Moore, diretor executivo da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), disse hoje que a decisão da Suíça de encerrar a fundação no país não tem “qualquer impacto” nas suas futuras operações.
Moore, que trabalhou como conselheiro de campanha do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi nomeado para o cargo há um mês, na sequência da demissão do seu antecessor, que abandonou o cargo um mês depois de a GHF (na sigla em inglês) ter começado a operar em Gaza, no final de maio, após palestinianos terem sido mortos,alegadamente pelo exército israelita, junto aos pontos de distribuição.
Durante uma conferência de imprensa em Bruxelas, Moore referiu-se ao anúncio feito pela Autoridade Federal de Supervisão para as Fundações (ASF), segundo o qual a fundação foi formalmente dissolvida por não ter qualquer ligação com a Suíça, uma vez que não tinha qualquer representante ou domicílio suíço.
“Penso que houve muita confusão no início sobre a GHF e uma coisa de que tenho a certeza é que qualquer que seja a decisão que os suíços tenham ou não tomado hoje, não tem absolutamente nenhum impacto no funcionamento futuro da GHF”, afirmou Moore, que deixou claro que se trata de uma organização norte-americana e “uma iniciativa liderada pelos EUA”.
Quanto ao financiamento da sua atividade, até agora desconhecida, Moore disse que se trata de uma instituição de caridade privada dos EUA.
“Uma das vantagens de ser uma instituição de caridade privada dos EUA, por razões que deveriam ser óbvias neste contexto, é que não é necessário revelar a identidade dos doadores”, disse.
Moore acrescentou que existem “alguns países” que apoiam a fundação e que “seriam uma grande surpresa para a União Europeia”, sem especificar quais.
Quanto ao pessoal da organização, disse que são norte-americanos e alguns europeus, cerca de 200 pessoas, incluindo recrutas locais em Gaza.
Moore afirmou que, antes deste novo esquema de distribuição, em que existem apenas quatro pontos de distribuição - em comparação com as centenas existentes antes e que eram geridos pela ONU e outras organizações -, o Hamas “controlava 100% dos alimentos”, uma alegação sobre a que Israel não forneceu qualquer prova e que foi desmentida por organismos internacionais, incluindo as Nações Unidas e os Médicos Sem Fronteiras.
A GHF recorreu a empresas de segurança privadas - sobre as quais Moore foi questionado mas não respondeu - para transportar a ajuda para zonas militarizadas, onde se registam ataques diários a civis que se deslocam para ir buscar mantimentos vitais para sobreviver.
Nem a ONU nem qualquer outra organização que pretenda levar assistência humanitária a Gaza aceitou participar neste novo mecanismo, que começou a funcionar no final de maio, período em que mais de 500 pessoas morreram e outras 4.000 ficaram feridas quando tentavam recolher comida, segundo as autoridades de Gaza.
A ASF publicou hoje "um apelo aos credores na sequência da liquidação da fundação registada em Genebra" no Diário Oficial do Comércio Suíço.
O organismo "pode ordenar a dissolução da fundação se nenhum credor se manifestar no prazo legal de 30 dias", disse o Departamento Federal do Interior à agência de notícias France-Presse (AFP).
Ainda segundo a ASF, a GHF confirmou "que nunca exerceu qualquer atividade na Suíça enquanto fundação e que pretende dissolver a fundação registada em Genebra".
Entretanto, o diário da ONU denuncia os obstáculos à chegada de ajuda essencial à população do enclave palestiniano devastado, que está em guerra desde outubro de 2023.
Israel, cuja ofensiva começou no dia seguinte a um ataque do movimento islâmico palestiniano Hamas, em 07 de outubro de 2023, impôs um bloqueio humanitário ao território palestiniano no início de março.
O bloqueio provocou uma escassez muito grave de géneros alimentícios, medicamentos e outros bens de primeira necessidade, que só foi parcialmente atenuada com o início da distribuição da GHF.
Cerca de 170 organizações internacionais apelaram na terça-feira ao fim do novo sistema de distribuição de ajuda e ao regresso ao mecanismo que vigorou até março, quando a distribuição da ajuda era coordenada por várias organizações e agências da ONU.