O pessoal humanitário que continua a trabalhar em Gaza não pôde verificar ainda se a população começou a receber ajuda de uma organização privada criada por Israel e pelos Estados Unidos, anunciou hoje a ONU.
A organização israelo-norte-americana “Fundação Humanitária para Gaza” divulgou fotografias nos meios de comunicação social que alegam ser de palestinianos a recolher caixas de ajuda vital, mas nenhuma entidade independente confirmou a ação.
“Também vimos as fotografias, mas não podemos confirmar”, disse a porta-voz da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês), Juliette Touma.
A porta-voz disse que “são necessários pelo menos 500-600 camiões” por dia de ajuda em Gaza, incluindo alimentos, medicamentos, material médico, vacinas para crianças, água e outros artigos.
“Estamos muito longe de atingir esse objetivo”, afirmou, citada pela agência de notícias espanhola EFE.
O porta-voz do Gabinete de Coordenação Humanitária da ONU, Jens Laerke, em Genebra, disse que a organização também viu as imagens divulgadas pela “Fundação Humanitária para Gaza”.
“Mas ninguém sabe se são verdadeiras ou não”, afirmou Laerke.
A ONU disse que não irá cooperar com a organização israelo-americana porque a forma como aborda o trabalho é contrária aos princípios humanitários e deixa a ajuda ao sabor de interesses políticos e militares.
Touma afirmou que, desde que Israel impôs um bloqueio humanitário a Gaza, no início de abril, não permitiu a entrada de qualquer camião com ajuda da UNRWA.
A porta-voz disse que a agência da ONU tem 3.000 veículos deste tipo em locais próximos de Gaza, como o Egito ou a Jordânia, à espera de autorização de acesso ao território palestiniano.
“Estamos à espera de luz verde para irmos buscar medicamentos que vão expirar em breve”, afirmou.
Entre os produtos cujo prazo de validade está a acabar, mencionou medicamentos para a diabetes, as doenças cardiovasculares e o alívio da dor.
A “Fundação Humanitária de Gaza”, com sede nos Estados Unidos e apoiada por Israel, foi criada para distribuir ajuda na Faixa de Gaza.
O exército israelita anunciou que a fundação começou hoje a fazer entregas em dois pontos, um em Tal al Sultan, nos arredores de Rafah, e outro no corredor de Morag, ambos no sul do enclave.
Os dois centros “começaram a funcionar hoje e estão a distribuir pacotes de alimentos a milhares de famílias da Faixa de Gaza”, disse o exército num comunicado citado pela EFE.
Num vídeo divulgado aos meios de comunicação social palestinianos sobre o conteúdo das caixas entregues à população, podem ver-se três pacotes de massa, dois sacos de um quilo de arroz, outro de lentilhas vermelhas, ou latas de tomate e grão-de-bico, entre outros artigos.
A guerra em curso foi desencadeada por um ataque do grupo radical palestiniano Hamas em Israel em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
A retaliação israelita matou mais de 54.000 pessoas na Faixa de Gaza, que é controlada pelo Hamas desde 2007.