O novo enviado especial da África do Sul aos Estados Unidos apelidou o Presidente dos EUA, Donald Trump, de racista, homofóbico e narcisista num discurso em 2020, noticia hoje a agência de notícias Associated Press (AP).
Mcebisi Jonas, ex-vice-ministro das Finanças, foi nomeado na segunda-feira pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, como seu representante em Washington, com a tarefa de reconstruir as relações da África do Sul com os EUA.
A administração Trump expulsou o embaixador sul-africano no mês passado.
O discurso do novo enviado sul-africano, no qual criticava Trump e o seu primeiro mandato, foi proferido em 08 de novembro de 2020, cinco dias após a eleição em que Joe Biden derrotou Trump. Os seus comentários têm circulado nos meios de comunicação social.
“Neste momento, os EUA estão a passar por um momento decisivo, com Biden a ser o vencedor certo na corrida presidencial contra o racista e homofóbico Donald Trump”, disse Jonas. E acrescentou: “como chegámos a uma situação em que um narcisista de direita assumiu o comando da maior potência económica e militar do mundo é algo sobre o qual temos de refletir. É algo sobre o qual todas as democracias precisam de refletir”.
Estas estas declarações foram realizadas na conferência anual de Ahmed Kathrada na África do Sul, em que figuras públicas são convidadas a proferir um discurso para a fundação de Kathrada, um dos ativistas anti-apartheid julgado pelo Governo da minoria branca na década de 1960 e preso juntamente com Nelson Mandela.
O discurso de Jonas centrou-se essencialmente na desigualdade, no impacto da pandemia de covid-19 e na promoção das ideias do globalismo e do comércio internacional. “Esperemos que a derrota de Trump seja um golpe para o 'lobby' da desglobalização”, afirmou.
Não houve qualquer comentário imediato da sua parte ou do Governo sobre estas observações.
A África do Sul tem sido um dos principais alvos das críticas de Trump.
Trump acusou o Governo sul-africano de maltratar a minoria branca no seu país e criticou a sua política externa como antiamericana. Em fevereiro, assinou um decreto executivo que cortou o financiamento dos EUA à África do Sul devido a essas questões.
Trump continuou as suas críticas numa publicação numa rede social este fim de semana, quando disse que os EUA não queriam participar na cimeira do G20 este ano se esta se realizasse na África do Sul, como está previsto.
Nessa publicação, Trump insistiu que a África do Sul está a permitir a apreensão de terras a agricultores brancos “e depois a matá-los e às suas famílias”, acusações repetidamente negadas pela África do Sul, que diz serem alegações baseadas em desinformação.
A África do Sul aprovou uma lei de expropriação de terras, que permite que estas sejam tomadas pelo Governo sem indemnização se for do interesse público, criticada por alguns grupos minoritários brancos, embora ainda não tenham sido tomadas terras ao abrigo da nova lei.
Na ordem executiva de Trump também se critica a África do Sul por apresentar no Tribunal Internacional de Justiça a acusação contra Israel, aliado dos EUA, de genocídio contra os palestinianos em Gaza.
O embaixador da África do Sul nos Estados Unidos, Ebrahim Rasool, foi expulso em março por causa de uma palestra na qual criticou as novas dinâmicas políticas nos EUA, dizendo que Trump estava a lançar “um ataque à incumbência - aqueles que estão no poder” e que o movimento ‘Make America Great Again’ era em parte resultado de um “instinto supremacista”.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que Rasool era um “político que se aproveita da raça” e que odeia Trump, e declarou-o ‘persona non grata’, ordenando a sua saída dos EUA.