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Profissionais de saúde moçambicanos dão ao Governo até quinta-feira para decidir greve

LUSA
31-03-2025 12:36h

A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) desconvocou a greve prevista para hoje, após agendamento de negociações com o Governo para quinta-feira, avisando que, sem resultados, a paralisação avança imediatamente.

“Vamos abrir esse espaço do diálogo, mas é só de um dia, para não dizermos de algumas horas. Se não trouxer algo de concreto no mesmo dia 03 de abril, nós viremos anunciar as datas concretas [da greve]”, afirmou Anselmo Muchave, presidente da APSUSM, acusando, no entanto, o Governo de “dar voltas” nos últimos meses com o processo reivindicativo destes profissionais.

Ainda assim, o presidente da associação, que inclui enfermeiros e auxiliares, entre outros, afirmou, em conferência de imprensa, em Maputo, que a suspensão da paralisação que deveria iniciar hoje é uma oportunidade para "o diálogo”, processo em que exigem ao Governo que melhore as condições de trabalho, o enquadramento profissional e as horas extraordinárias.

“Recebemos com imenso agrado o convite endereçado pelo Governo com a esperança de ver as preocupações dos profissionais de saúde e da sociedade em geral resolvidas. Esperamos com ansiedade a proposta do Governo que possa advir para solucionar preocupações mais importantes para os profissionais de saúde e para a sociedade moçambicana”, sublinhou Muchave.

Contudo, acrescentou que, até agora, da parte do Governo, não tem havido “nada de concreto”, além da informação que “submeteu documentos” a vários ministérios: “O que significa que desde o ano passado o Governo só está a dar voltas com os documentos nos outros ministérios”.

Em causa estão as exigências da APSUSM, que há três anos pede que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, face à necessidade, em alguns casos, de serem adquiridos pelos pacientes, bem como a aquisição de camas hospitalares.

Pedem também a resolução da "falta de alimentação", ou o equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartável, cuja ausência vai "obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso", além de um melhor enquadramento no âmbito da Tabela Salarial Única (TSU).

“Esperávamos desse Governo algo mais diferente do antigo”, lamentou Muchave, aludindo aos 100 dias do novo executivo, nomeado pelo Presidente, Daniel Chapo, que se assinalam em meados de abril.

O presidente da APSUSM afirma mesmo que, atualmente, há casos de profissionais de saúde sem receber salário, sem explicação, além do caderno reivindicativo entregue, situações que agravam “um trabalho precário” que está ser prestado nas unidades sanitárias moçambicanas.

“Temos até agora muitos casos, até hoje, de profissionais de saúde sem salário e nós não sabemos como essas pessoas vão fazer. Nós começamos a romantizar aquilo que é o trabalho das pessoas, porque as pessoas não têm como chegar às instituições, não têm transporte e nem têm como se alimentar”, disse ainda.

O ministro da Saúde moçambicano, Ussene Isse, alertou em 21 de março que uma eventual greve no setor será “um desastre” e pediu diálogo aos profissionais.

“Greve na saúde é um desastre, autêntico desastre. Imagine só ficar 10 a 15 minutos sem atender um doente na sala de reanimação, um doente crítico, o que vai acontecer? Morte. Já aconteceu aqui várias vezes, familiares de colegas nossos perderam a vida. É ou não uma tragédia?”, questionou o ministro Ussene Isse, garantindo que o Governo tem-se “pautado pelo diálogo” com os profissionais da classe com objetivo de resolver as suas preocupações.

 O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo últimos dados do Ministério da Saúde.

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