O chefe da diplomacia francesa, Jean-Noël Barrot, pediu hoje, durante uma visita a campos de refugiados sudaneses no vizinho Chade, que as partes em conflito no Sudão cessem as hostilidades e entrem em negociações.
O ministro francês também convidou "potências estrangeiras aliadas às partes em conflito a pararem de colocar lenha na fogueira", sem citar nenhum país específico, num momento em que os Emirados Árabes Unidos são acusados de fornecer armas às paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) e o Chade de apoiá-las ao permitir o trânsito de armas pelo seu território.
Desde abril de 2023, o Sudão tem sido dilacerado por uma guerra entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane, que lidera a junta no poder, e as RSF, comandadas pelo general Mohamed Hamdane Daglo.
O ministro das Relações Exteriores do Chade, Abderaman Koulamallah, que estava com o seu homólogo francês, assegurou-lhe que o Chade estava a manter a "sua estrita neutralidade no conflito".
"A guerra no Sudão ameaça o Chade porque (...) compartilhamos mais de 1.084 quilómetros de fronteiras com o Sudão. É do nosso interesse que a paz regresse ao Sudão e que permaneçamos o mais neutros possível nesta guerra", insistiu Koulamallah.
O chefe da diplomacia francesa anunciou que a França vai "alocar mais sete milhões de euros para apoiar o trabalho da ONU e de Organizações Não-Governamentais (ONG) na luta contra a cólera e na prestação de apoio a mulheres e crianças" no Chade.
Esses fundos são adicionais aos 110 milhões que Paris prometeu numa conferência humanitária internacional em abril.
Nessa conferência, a comunidade internacional prometeu mais de dois mil milhões de euros em ajuda ao Sudão, mas também expressou preocupação com as dificuldades de levar essa ajuda à população.
O ministro chadiano reiterou hoje que "é responsabilidade deles [partes beligerantes] acabar com a guerra, abrir corredores humanitários, estabelecer um cessar-fogo e iniciar o diálogo".
Todavia, têm sido feitos alguns progressos no Sudão, com o primeiro voo de carga com medicamentos e materiais médicos essenciais aterrado no estado do Nilo Azul, comunicou a ONG Save the Children, na quarta-feira.
O avião, que aterrou segunda-feira, 25 de novembro, estava carregado de "materiais médicos e medicamentos, nomeadamente antibióticos como a amoxicilina, que é usada para tratar infeções bacterianas, como a pneumonia", após a aprovação do Governo para usar três aeroportos no Sudão para a entrega de ajuda, explicou a ONG.
O conflito causou dezenas de milhares de mortos, deslocou mais de 11 milhões de pessoas e criou o que as Nações Unidas descrevem como a pior crise humanitária de que há memória recente, com o risco de fome generalizada. Ambos os lados do conflito são acusados de crimes de guerra, ao utilizar a fome como arma de guerra.