O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares lamentou hoje que Portugal ainda não meça resultados dos medicamentos e pediu ao Governo uma estratégia neste sentido, para se conseguir poupar na despesa com fármacos.
Em declarações à Lusa, Xavier Barreto lembrou que esta medição é fundamental “até para os acordos de partilha e risco” com as farmacêuticas e insistiu que o Governo deve olhar para esta dimensão como uma peça "importante e estratégica para o futuro do Serviço Nacional de Saúde.
O responsável lembrou que a despesa com medicamentos tem “crescido a dois dígitos” e disse que, sem medir os resultados, se está a perder a oportunidade de “escolher os melhores medicamentos”.
“Não estamos a perguntar aos pacientes quais são os resultados dos medicamentos que estamos a utilizar e até, de uma forma mais global, dos tratamentos que lhe vamos fazer. Estamos a perder a oportunidade de definir a forma como tratamos de acordo com o interesse do doente”, afirmou.
Como exemplo, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) aponta o País de Gales, contando que recentemente adotou uma aplicação desenvolvida por uma empresa portuguesa que recolhe resultados reportados pelos doentes.
“O que se espera é que, daqui a alguns anos, com a medição de valor de todos os seus pacientes de todo o Serviço Nacional de Saúde do País de Gales, comecem a ter informações para, por exemplo, comprar medicamentos com base no valor e para pagar aos hospitais com base nos resultados que obtiveram para os seus doentes”, exemplificou.
Xavier Barreto frisa a importância desta medição para se poder comparar e melhorar desempenhos: “Se os mesmos doentes num hospital têm 80% de taxa de cura e no outro só têm 50, se calhar o primeiro hospital está a fazer alguma coisa de melhor e diferente e tem de ser premiado”.
“Esta é uma ideia de cuidados de saúde baseados em valor, com todas as consequências que tem em termos de compras, em termos até do financiamento hospitalar, é uma ideia importante e que nós em Portugal não temos desenvolvido”, lamentou.
O responsável pede ao Governo que “entenda o potencial e importância” dos cuidados de saúde baseados em valor, desenvolvendo uma estratégia específica para colocar esta possibilidade no terreno.
“Isto é importantíssimo num contexto em que, como se sabe, o medicamento hospitalar tem crescido na maior parte dos anos a dois dígitos, acima de 10%. É um problema grave”, acrescentou.
O último relatório da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) sobre a monitorização de despesa nesta área indica que o encargo com medicamentos em ambulatório nos primeiros oito meses do ano atingiu os 1.103 milhões de euros, um crescimento de 43,6 milhões no mesmo período (+4,1%).