O ex-chefe de gabinete do antigo secretário da Saúde António Lacerda Sales afirmou hoje na comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras que uma secretária pessoal “não tem autonomia” para marcar consultas.
“Eu considero que uma secretária pessoal não tem autonomia para fazer marcação de consultas, só mediante instrução superior”, disse Tiago Gonçalves, depois de ter sido questionado pela deputada do BE Marisa Matias.
A bloquista perguntou ao ex-chefe de gabinete de Lacerda Sales se a antiga secretária do ex-governante tinha autonomia para marcar uma consulta no Hospital de Santa Maria (2020), onde as crianças foram tratadas com o medicamento Zolgensma nesse ano.
“Só vejo uma pessoa com responsabilidade para o fazer, que é o membro do Governo”, sublinhou.
Tiago Gonçalves confirmou que conhece Carla Silva e que não tem nada “a apontar do ponto de vista profissional, nem de competência, nem de lealdade”.
Ao deputado do CDS-PP João Almeida, o ex-chefe de gabinete de Lacerda Sales garantiu que “nunca deu nenhuma indicação para marcar” a consulta.
A 20 de setembro, Carla Silva disse no parlamento que não fez nada que Lacerda Sales não soubesse, revelando que teve orientações para contactar Nuno Rebelo de Sousa (filho do Presidente da República) e o hospital.
No entanto, Tiago Gonçalves disse à deputada da IL Joana Cordeiro que o ex-secretário de Estado da Saúde lhe perguntou “se tinha dado alguma indicação para ser marcada uma consulta”, o que negou.
O ex-chefe de gabinete de Lacerda Sales disse também que Nuno Rebelo de Sousa o contactou para agendar uma reunião com o ex-governante, no âmbito da hospitalização privada brasileira, recordando que o tema das gémeas não foi abordado na altura.
“Confirmo que Nuno Rebelo de Sousa me procurou para marcar uma reunião com o secretário de Estado da Saúde. Solicitei ao secretário de Estado essa reunião e transmiti a data e hora, tendo em conta ao que era habitual”, recordou.
Aos deputados, Tiago Gonçalves referiu que esteve presente na reunião de 07 de novembro de 2019 e que o teor da discussão foi a “mobilidade e o intercâmbio de profissionais de saúde” na hospitalização privada.
O ex-responsável pelo gabinete de Lacerda Sales também confirmou que o antigo assessor do Presidente da República para a área da Saúde teve contacto com o ex-governante, mas disse desconhecer “o teor das conversas” e que era habitual.
“Tenho essa memória de o ter encontrado” no Ministério da Saúde, sublinhou, referindo-se a um encontro entre Mário Pinto e Lacerda Sales.
Respondendo às questões dos deputados ao longo de uma hora e meia, Tiago Gonçalves reiterou que nunca teve contacto com Nuno Rebelo de Sousa e o Hospital de Santa Maria, e que apenas soube do caso das gémeas pela comunicação social.
Antes da audição do ex-chefe de gabinete de Lacerda Sales, a comissão aprovou por unanimidade os depoimentos escritos dos antigos ministros socialistas da Saúde Manuel Pizarro e da Justiça Francisca Van Dunem.
Também foram aprovados os pedidos de testemunho por escrito da ex-secretária geral da saúde Sandra Almeida, do fisioterapeuta das crianças em Portugal, Miguel Gonçalves, e da neuropediatra da Unidade Local de Saúde do Algarve Carla Mendonça.
A comissão aprovou ainda por unanimidade o requerimento do PSD para prescindir da audição do presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, Carlos Martins.