O número de idosos luso-venezuelanos em situação de abandono, de solidão e com carências económicas na Venezuela está a aumentar, alertou hoje Nelson Carrillo, um dos profissionais que integram a Rede Médica Portuguesa de Assistência Social.
“Temos vindo a constatar uma situação progressiva de abandono de idosos, cujo círculo familiar próximo, os filhos, tiveram de emigrar e estes ficaram, nas suas casas, na solidão, sem assistência médica e económica”, disse o cardeologista, baseando-se na atividade da Rede Médica Portuguesa de Assistência Social, que em seis anos de atividade já prestou assistência a milhares de portugueses e luso-descendentes.
Nelson Carrilo, que também é especialista em medicina interna, explicou que a situação destes luso-venezuelanos acarreta ainda consequências psicológicas, com quadros de ansiedade depressiva e de isolamento que influenciam outras doenças.
“O prognóstico dos pacientes de idade avançada, financeiramente vulneráveis e abandonados, que são também portadores de doenças cardiovasculares ou metabólicas, piora significativamente”, disse.
Isso mesmo traduz o que verifica nas consultas da Rede Médica Portuguesa de Assistência Social, onde se nota “uma altíssima incidência [65% a 70%] de doenças cardiovasculares”, que vão desde o sistema nervoso central, a acidentes vasculares cerebrais, cardiopatias isquémicas crónicas, valvulares e perturbações do ritmo cardíaco.
“Todas estas doenças cardiovasculares, do sistema nervoso central, do coração ou do sistema vascular periférico, têm uma incidência muito elevada de mortalidade quando não são tratadas a tempo, e estamos preocupados com esta situação”, frisou o especialista.
Nelson Carrillo disse que há um verdadeiro empenho e esforço genuíno nos profissionais que integram a Rede Médica Portuguesa de Assistência Social, que realizam diversos e amplos exames nas consultas, mas que muito doentes idosos, sem apoio e abandonados, têm dificuldades até no transporte para os centros de saúde.
“Isto deveria servir também de reflexão e sugere-nos que há que melhorar o apoio [serviço de consulta externa] a esta população em estado de vulnerabilidade”, frisou.
Precisou ainda que a rede conta com seis médicos divididos entre as cidades de Caracas, Valência e Puerto La Cruz, que fazem mais daquilo que está eticamente indicado, frisando que é preciso disponibilizar mais recursos para que cheguem de maneira mais efetiva à população, sobretudo no que se refere a disponibilizar medicamentos, porque o acesso é limitado.
“Sugerimos que as autoridades de Portugal considerem a possibilidade de melhorar os recursos para manter este serviço médico atualizado e otimizado”, frisou.
“Em seis anos já vi 1.400 doentes” revelou este médico, que pediu mais promoção da Rede Médica Portuguesa de Assistência Social, porque é “um serviço criado com boa intenção e genuíno, que conta com médicos dedicados e entusiasmados”.
“É preciso mais informação para que este programa chegue a mais pessoas e que elas possam aceder tendo a confiança de que vamos fazer-lhes uma avaliação e um diagnóstico de saúde com mais precisão”, disse.
A Rede Médica Portuguesa de Assistência Social foi criada em 2018, para atender cidadãos carenciados portugueses em várias regiões da Venezuela, aos que, além de assistência médico-profissional, faz chegar medicamentos para algumas doenças.
A rede conta atualmente com seis médicos, dois deles em Caracas, a capital do país, e outros quatro nas cidades venezuelanas de Los Teques, Maracay, Valência e Puerto La Cruz.
Sem dados dos últimos dois anos, até junho de 2022, segundo pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, mais de 2.000 portugueses tinham sido atendidos e tinham sido distribuídas mais de 1,8 toneladas de medicamentos.
Nelson Carrillo explicou que qualquer português que precise de assistência médica pode ter até quatro consultas por ano de avaliação completa e gratuitas, bastando apresentar o seu cartão de cidadão.