O médico que recusou liderar o INEM disse hoje que o organismo “está a viver do voluntariado”, afirmando que as “verbas não chegam” e que seria necessário “um investimento que pode ir até aos 80 milhões de euros”.
“As verbas do INEM não chegam. Estamos a viver do voluntariado. Nós estamos a viver do voluntariado com pessoas com 200 e poucas horas de formação. Como é que eu posso assumir o cargo de presidente do INEM, se não me dão aquilo que é mais importante, que é refundar?”, contestou Vítor Almeida na comissão parlamentar da Saúde, onde foi ouvido a pedido da Iniciativa Liberal e do Chega.
Vítor Almeida, que é também médico no INEM, falava no parlamento dois meses depois de ter rejeitado liderar, a convite do Governo, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
De acordo com o clínico do quadro do Hospital de Viseu, a peça-chave de “todo o puzzle” começa por profissionalizar o sistema.
“Há modelos de transição. Podemos colocar um técnico do INEM, juntamente com os bombeiros, fazer equipas híbridas. Também a Ordem dos Médicos podia ajudar um pouco neste processo, por ser uma fase de transição. Estamos a falar de um investimento que pode ir até aos 80 milhões de euros”, indicou o especialista em emergência.
Aos deputados, Vítor Almeida explicou que “mais de 80% do socorro em Portugal” não é feito pelo INEM, mas sim pelos bombeiros e Cruz Vermelha Portuguesa.
Segundo o médico, há 445 postos de emergência médica em Portugal, dos quais 423 estão nos bombeiros.
Nesse sentido, sustentou que o INEM precisa de reforço orçamental, nomeadamente para a formação.
“Há uma decalagem de nível brutal neste momento no socorro. (…) Nós temos que profissionalizar estes meios, o que significa que nós precisamos à vontade entre dois a quatro mil profissionais para trabalhar no sistema”, sublinhou.
Vítor Almeida tinha sido nomeado no dia 04 de julho para a presidência do INEM, após a demissão de Luis Meira na sequência da polémica com o concurso dos helicópteros de emergência médica.
Perante isso, foi nomeado o militar Sérgio Dias Janeiro, que dirigia o serviço de medicina interna do Hospital das Forças Armadas.