As concentrações de metano na atmosfera continuam a aumentar, a um ritmo que acelerou nos últimos anos, apesar da promessa de muitos países de reduzir drasticamente as emissões deste gás com efeito de estufa, alertaram hoje os investigadores.
“O metano está a aumentar mais rapidamente, em termos relativos, do que qualquer outro grande gás com efeito de estufa, atingindo agora níveis 2,6 vezes superiores aos da era pré-industrial”, escreveu uma equipa internacional de cientistas sob a égide do Global Carbon Project, num estudo publicado na revista Environmental Research Letters.
O metano (CH4) é o segundo gás com efeito de estufa associado à atividade humana, a seguir ao dióxido de carbono (CO2).
Cerca de 40% do metano provém de fontes naturais, nomeadamente das zonas húmidas, mas a maior parte (cerca de 60%) está ligada às atividades humanas, como a agricultura (criação de ruminantes e cultivo de arroz), os combustíveis fósseis e os resíduos.
O seu potencial de aquecimento é mais de 80 vezes superior, em 20 anos, ao do CO2, mas o seu tempo de vida é mais curto, o que faz dele uma alavanca importante na tentativa de limitar o aquecimento global a curto prazo.
Mas o inventário efetuado pelos cientistas mostra que a trajetória seguida não é a correta e que as concentrações de metano na atmosfera - o metano emitido menos uma parte absorvida pelo solo e por reações químicas na atmosfera - continuaram a aumentar.
O aumento na atmosfera foi de 6,1 milhões de toneladas por ano, em média, na década de 2000, e depois de 20,9 milhões de toneladas na década de 2010.
O crescimento acelerou ainda mais nos últimos anos, a taxas nunca vistas desde o início das medições contínuas na década de 1980, atingindo 41,8 milhões de toneladas em 2020, o dobro da média da década anterior.
“As emissões antropogénicas continuaram a aumentar em quase todos os países do mundo, com exceção da Europa e da Austrália, que apresentam um lento declínio”, disse à agência AFP Pep Canadell, o diretor executivo do Global Carbon Project e coautor do estudo, com sede em Camberra (Austrália).
Os aumentos foram impulsionados principalmente pelas emissões provenientes da extração de carvão, da produção e utilização de petróleo e gás, da criação de gado bovino e ovino e da decomposição de alimentos e matéria orgânica em aterros sanitários.
Há também causas naturais em jogo. “O aumento em 2020, e em particular nos dois anos seguintes, foi causado por um período bastante excecional do fenómeno La Niña, que traz condições mais húmidas do que a média a muitas partes do mundo, em particular aos trópicos”, explica Pep Canadell.
Estas condições favorecem a produção natural de metano nas zonas húmidas, em especial nas regiões tropicais, que são a principal fonte natural deste gás. E espera-se que o fenómeno La Niña regresse este ano.
Em 2020, a luta contra a covid-19 também teve um efeito paradoxal, já salientado por um estudo: A redução dos poluentes relacionados com os transportes (NOx) atrasou indiretamente a eliminação do metano da atmosfera.
A trajetória do metano parece estar desfasada das recomendações dos peritos em clima da ONU (IPCC) para manter o aquecimento global abaixo dos 2°C, e das promessas feitas pelos governos.
Em 2021, a União Europeia e os Estados Unidos lançaram um “compromisso global” para reduzir as emissões globais de metano em 30% até 2030, em comparação com 2020.
Atualmente, este compromisso abrange mais de 150 países, mas não inclui a China, a Índia ou a Rússia.
Estes objetivos “parecem tão distantes como um oásis no deserto”, afirma Rob Jackson, da Universidade de Stanford, principal autor do estudo. “Todos esperamos que não sejam uma miragem”.
A China e os Estados Unidos estão a preparar em conjunto uma cimeira sobre os gases poluentes, que não o CO2, incluindo o metano, o que poderá abrir caminho a novos compromissos.