O Ministério da Saúde de Gaza reviu hoje em baixa, de 40 para 19, o número de mortos no ataque israelita de terça-feira a um campo de refugiados numa zona humanitária definida como tal.
A Defesa Civil, que atua sob o comando do governo do grupo islamita palestiniano Hamas, indicou anteriormente que 40 pessoas tinham sido mortas. O exército israelita contestou esse número, afirmando que tinha utilizado munições precisas contra um grupo de militantes.
O Ministério da Saúde de Gaza também faz parte do governo do Hamas, mas os seus números são geralmente considerados fiáveis, pois mantém registos pormenorizados em que os dados sobre conflitos anteriores coincidem em grande medida com os de investigadores independentes, da ONU e mesmo dos militares israelitas.
No entanto, o Ministério da Saúde do Hamas, que não comentou, para já, as razões para tal discrepância, admitiu que o número de mortos do ataque de terça-feira pode aumentar.
As Nações Unidas, a União Europeia (UE), a Turquia e o Reino Unido condenaram já hoje o ataque israelita de terça-feira, mas ainda tendo como pano de fundo o total de 40 mortos, não os 19.
“Condeno veementemente os ataques aéreos mortíferos efetuados por Israel numa zona densamente povoada, uma zona humanitária definida por Israel em Khan Yunis, onde as pessoas deslocadas estavam abrigadas”, declarou o enviado da ONU para o processo de paz no Médio Oriente, Tor Wennesland, em comunicado.
“Os civis nunca devem ser utilizados como escudos humanos”, acrescentou, referindo-se às declarações do exército israelita que afirma ter atingido um centro de comando do Hamas.
No Cairo, onde se encontra, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, também condenou o ataque israelita ao campo de refugiados em Gaza, tendo como referência o total de 40 mortos.
“Não posso deixar de levantar a minha voz contra este tipo de situações. A guerra tem sempre leis. É difícil acreditar que essas leis da guerra sejam cumpridas”, afirmou.
Com base nos mesmos números, a Turquia considerou um “crime de guerra” israelita o ataque à “zona humanitária” de al-Mawassi, em Khan Younes.
“O governo genocida de Netanyahu acrescentou um novo crime à sua lista de crimes de guerra”, escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco em comunicado.
Também o chefe da diplomacia britânica, David Lammy, qualificou de “chocantes” as mortes causadas por este ataque, sublinhando a necessidade urgente de um cessar-fogo.
“Encontramo-nos num momento crítico, um momento crítico para garantir um cessar-fogo em Gaza, e as mortes chocantes em Khan Younes esta manhã reforçam a necessidade urgente de um cessar-fogo”, disse David Lammy numa conferência de imprensa com o seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, em Londres.
O bombardeamento atingiu cerca de 20 tendas, nas quais dormiam pessoas deslocadas perto da mesquita Ozman bin Affan, atrás do hospital Britânico, situado no sudoeste da cidade.
“A explosão criou uma grande cratera e um incêndio. Os corpos e as tendas ficaram misturados na areia e há várias pessoas desaparecidas”, relataram os serviços de defesa civil do enclave, que classificaram o ataque como um “massacre horrível”.
Nas imagens divulgadas por estas equipas de resgate, pode ver-se os seus trabalhadores a escavar a areia da praia para tentar extrair corpos ou sobreviventes.
O porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmud Basal, disse hoje de manhã que “famílias inteiras desapareceram na areia” do campo.
Cerca de 90% da população de Gaza – mais de dois milhões de pessoas – está atualmente deslocada e quase todas essas pessoas estão amontoadas nesta “zona humanitária” designada pelo exército israelita, que cobre 14% do centro e sul da Faixa em áreas de Mawasi, Khan Yunis e Deir al-Balah.
Testemunhas do ataque disseram aos serviços de defesa civil que Israel disparou cinco mísseis contra as tendas dos deslocados na zona costeira.
Mahmud Basal acrescentou ainda que foram encontradas três crateras muito profundas no local do bombardeamento. As forças armadas israelitas não confirmaram a utilização de cinco mísseis no bombardeamento, mas também não negaram.
Desde o início da guerra em Gaza, em outubro passado, mais de 41 mil palestinianos foram mortos e mais de 94.800 ficaram feridos devido aos incessantes ataques israelitas, de acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde do enclave, governado pelo Hamas.