A UNICEF apelou hoje para a continuação das pausas humanitárias na Faixa de Gaza para concluir a campanha de vacinação contra a poliomielite, que, após a primeira fase, "é um pouco de luz" no meio do conflito.
A agência das Nações Unidas salientou que o progresso alcançado esta semana, que levou à vacinação de quase 190.000 habitantes do território com menos de 10 anos em apenas três dias, não poderia ter sido atingido sem pausas nos confrontos entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas.
“Estas pausas foram respeitadas desde a primeira fase, dando às famílias e aos trabalhadores a confiança necessária para realizar este trabalho”, descreveu a diretora regional da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África, Adele Khodr, em comunicado.
Da mesma forma, afirmou que este ambiente deve ser mantido, alegando que, sem uma pausa para levar a cabo as duas fases restantes da campanha de vacinação, não será possível “proteger as crianças de Gaza” e serão colocadas em risco outras da região.
“Devemos alcançar pelo menos 90% de cobertura vacinal para travar a propagação do vírus", refere o documento, acrescentando: “Preparar esta campanha ambiciosa e conseguir estas pausas não foi fácil, mas mostra que é possível permitir a entrada de mantimentos na Faixa, silenciar os ataques e proteger os civis”.
Khodr, que lamentou que esta campanha seja uma das mais perigosas e difíceis do mundo, sustentou que os últimos dias lançaram "um pouco de luz no meio do conflito desastroso", mas alertou para a "destruição contínua de infraestruturas vitais".
O risco de surtos de doenças mortais continua a aumentar em toda a Faixa de Gaza e recordou que, antes do início da ofensiva israelita contra o enclave palestiniano, a cobertura da vacinação infantil era "muito elevada”, superior a 99 por cento.
“Depois de quase um ano em que as famílias sofreram horrores que nenhum homem, mulher, rapaz ou rapariga deveria ter de suportar, esta semana vimos o que se pode conseguir, simplesmente, com vontade”, elogiou, antes de destacar, que durante um quarto de século, nem um único caso de poliomielite foi registado na Faixa de Gaza.
Esta situação, explicou, mudou agora que, devido à guerra, se acumulam esgotos não tratados e detritos.
“O risco de a poliomielite se espalhar dentro de Gaza e mesmo fora dela, sobretudo para os países vizinhos, continua elevado”, advertiu.
A UNICEF sublinhou a importância de, apesar dos “ataques incessantes às escolas e aos abrigos para menores deslocados”, as famílias estarem a fazer esforços para comparecer em grande número nos locais de vacinação. “Elas sabem que não há tempo a perder para proteger os seus filhos”, observou.
"A história e as provas científicas mostram-nos que a forma mais segura e eficaz de travar a propagação e proteger as crianças da poliomielite é a vacinação. A vacina é segura e eficaz e tem sido utilizada para proteger rapazes e raparigas em mais de 40 países nos últimos três anos", refere ainda o comunicado.
A Faixa de Gaza é já o lugar mais perigoso do mundo para se ser criança e, mesmo com uma pausa para a vacinação contra poliomielite, a campanha em curso enfrenta graves perigos e obstáculos, como estradas e infraestruturas de saúde danificadas, populações deslocadas, pilhagens e rotas de abastecimento interrompidas.
Por seu lado, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) alertou igualmente que é crucial vacinar 90% dos menores de Gaza para obter resultados e insistiu num cessar-fogo definitivo.
A organização explicou que várias equipas da UNRWA têm colaborado na campanha de inoculação em Deir al-Bala, bem como noutras zonas do centro do território Gaza: “Foram de casa em casa vacinando cada criança que não pôde ir aos centros de saúde”.
O atual conflito foi desencadeado com um ataque sem precedentes do Hamas em 07 de outubro a Israel, onde deixou cerca de 1.200 mortos e levou perto de 250 reféns.
Em resposta, Israel lançou uma grande ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza, que fez mais de 40 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, na maioria mulheres e menores, provocou um desastre humanitário e desestabilizou todo o Médio Oriente.
Telavive e Hamas continuam sem conseguir um acordo para o fim dos combates, mas foram alcançadas pausas humanitárias temporárias para travar a propagação de poliomielite no enclave.