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MSF denunciam falta de resposta humanitária nos 500 dias de guerra no Sudão

Lusa
27-08-2024 10:33h

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) recordou hoje a entrada nos 500 dias da guerra entre militares sudaneses, que produziu a maior catástrofe humanitária atual, considerando que “não há tempo a perder” para terminar o conflito.

“Hoje assinalam-se 500 dias desde que o Sudão começou a viver a sua pior crise humanitária de sempre. Este é um momento vergonhoso para as organizações humanitárias internacionais e para os doadores”, consideram os MSF.

A ONG considera tratar-se de “um momento vergonhoso” porque “durante mais de 16 meses [as organizações humanitárias e doadores] não conseguiram dar uma resposta adequada às crescentes necessidades médicas do país, desde a desnutrição infantil catastrófica até aos surtos generalizados de doenças”.

O conflito opõe desde 15 de abril de 2023 o exército governamental ao grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla inglesa) e foi espoletado devido às contradições da integração dos paramilitares nas forças armadas sudanesas na sequência do derrube do antigo ditador Omar al-Bashir.

“As fortes restrições impostas por ambas as partes beligerantes limitaram drasticamente as capacidades, incluindo as nossas, para prestar ajuda”, denunciam os MSF.

Os MSF tentam resolver algumas das situações mas em muitos dos locais onde trabalha é a única organização internacional a operar e, confessa, não pode enfrentar sozinha “esta enorme crise”.

A coordenadora de emergência dos MSF em Porto Sudão, Esperanza Santos, citada no comunicado, salienta que além da dificuldade em abastecer os projetos com material e pessoal, outra contrariedade assenta na falta de “financiamento sustentado” às agências da ONU, bem como às organizações locais e às equipas de intervenção, “que estão a suportar o peso desta resposta”.

“Uma resposta significativa, com a ajuda chegando às pessoas que mais precisam, deve começar agora. Não há mais tempo a perder”, frisa Esperanza Santos.

O conflito provocou já dezenas de milhares de mortos e feridas e, entre abril de 2023 e junho passado, os MSF trataram 11.985 feridos de guerra nos hospitais que apoia.

“A violência criou a maior crise de deslocados do mundo: mais de 10 milhões de pessoas, ou uma em cada cinco pessoas no Sudão, foram forçadas a fugir das suas casas, muitas delas enfrentando deslocações repetidas, de acordo com a ONU”, cita a ONG.

Na falta de soluções políticas para a crise, a desnutrição aumenta acompanhando o aumento dos preços dos alimentos e a falta de suprimentos humanitários.

“Para além da situação catastrófica no campo de Zamzam, no Darfur Norte, os centros de alimentação terapêutica dos MSF noutras áreas do Darfur, como Al-Geneina, Nyala e Rokero, estão cheios de pacientes, e o mesmo se aplica aos campos de refugiados onde operamos no leste do Chade. Desde o início da guerra até junho de 2024, tratámos 34.751 crianças com desnutrição aguda no Sudão” contabiliza a ONG.

Os MSF destacam ainda que o conflito colocou cerca de 80% das instalações de saúde fora de serviço, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, paralisando um sistema de saúde já em dificuldades.

“Só em Al-Fasher, as instalações apoiadas pelos MSF foram atacadas 12 vezes e apenas um hospital público permanece parcialmente funcional, com capacidade para realizar cirurgias, desde que os combates se intensificaram na cidade em maio”, detalha.

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