Timor-Leste fez um "progresso impressionante" desde a independência, mas permanece um estado frágil, considera o Fundo Monetário Internacional (FMI), com alguns analistas a alertarem para os "desafios da transição" do poder e perspetiva de crescimento económico modesto.
"Cinco figuras políticas da 'Geração de 75', o grupo de pessoas que liderou o movimento de descolonização contra Portugal em 1975 e a resistência contra a ocupação indonésia subsequente, continuam a dominar a política do país; foram cruciais para a estabilidade, mas os seus conflitos pessoais prejudicaram a construção e fortalecimento das instituições", escreve o analista Parker Novak, do Instituto Lowy, num artigo sobre Timor-Leste.
"A próxima geração de líderes está pronta, mas a transferência de poder pode criar um vácuo, com o potencial de desestabilizar o sistema político", acrescenta o analista no texto de análise sobre os desafios do país, que a 30 de agosto assinala os 25 anos do referendo que levou à independência de Timor-Leste.
Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), um parceiro de longa data do país lusófono, Timor-Leste fez bons progressos desde a independência, em 2002, enfrentando desafios semelhantes a outras pequenas economias insulares.
Apesar do progresso impressionante desde a independência, “Timor-Leste mantém-se um estado frágil pós-conflito; um crescimento modesto é esperado a médio prazo, mas os riscos são principalmente negativos, sendo necessário garantir a sustentabilidade orçamental e apoiar mais um crescimento mais rápido e o desenvolvimento, diversificando a economia", escrevia o FMI no último relatório de análise à economia timorense, no princípio deste ano.
Nesse relatório, o Fundo defendia a necessidade de avançar com reformas estruturais para promover o desenvolvimento do setor privado, diversificar a economia e apoiar um crescimento sustentável, que registou vários picos nas últimas décadas e manteve-se sempre em território positivo desde a pandemia de covid-19, no início da década.
"Dar prioridade ao desenvolvimento do capital humano, incluindo melhorando a qualidade da educação e fortalecendo a formação e a educação vocacional, ajudaria Timor-Leste a desbloquear o seu grande dividendo demográfico", diz o FMI.
A instituição financeira internacional defende ainda que "a vulnerabilidade do país às alterações climáticas e aos desastres naturais deve encorajar investimentos em infraestruturas resilientes ao clima".
Para além dos desafios climáticos, Timor-Leste enfrenta também o desafio de ser um pequeno país entre grandes potências, com o analista Parker Novak a elencar China, Austrália e Indonésia como os mais influentes.
"As variáveis transnacionais fora do controlo do país, como as alterações climáticas, futuras pandemias e recessões globais, vão continuar a influenciar o rumo dos acontecimentos", que será também determinado pelo futuro do projeto de exploração petrolífera Greater Sunrise.
"Será o mais importante fator e determinante do rumo de Timor-Leste", argumenta o analista, vincando que "o futuro da jovem nação asiática depende do sucesso deste projeto".
Localizado a 150 quilómetros de Timor-Leste e a 450 quilómetros de Darwin, o projeto Greater Sunrise tem estado envolto num impasse, com Díli a defender a construção de um gasoduto para o sul do país e a Woodside, segunda maior parceira do consórcio, a inclinar-se para uma ligação à unidade já existente em Darwin.
O consórcio é constituído pela timorense Timor Gap (56,56%), a operadora Woodside Energy (33,44%) e a Osaca Gás Australia (10%).
O acordo de fronteira marítima permanente entre Timor-Leste e a Austrália determina que o Greater Sunrise, um recurso partilhado, terá de ser dividido, com 70% das receitas para Timor-Leste no caso de um gasoduto para o país, ou 80% se o processamento for em Darwin.