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Seca: algarvios dispostos a esforço de poupança de água pedida pelo Governo

Lusa
29-01-2024 12:33h

Responsáveis e entidades com interesse no setor querem preservar a imagem e a qualidade do destino Algarve para turismo. Maior parte das pessoas está disposta a fazer um esforço para reduzir consumo.

Os algarvios estão dispostos a cortar 15% no seu consumo de água, uma medida decidida pelo Governo para combater a situação de seca extrema e permitir que o precioso líquido corra nas torneiras depois de agosto.

 
“O que está em cima da mesa, foi proposto aos hoteleiros com muita responsabilidade, é fazer uma redução no consumo de água, e é esse esforço que vamos fazer, e acreditamos que vamos passar um verão sem afetar nada o turismo”, disse à agência Lusa João Soares, diretor de uma unidade hoteleira em Quarteira.

Todos os responsáveis e entidades com interesse no setor querem, acima de tudo, preservar a imagem e a qualidade do destino Algarve para o turismo, que é atualmente a indústria mais importante da região.

Os restaurantes e similares também querem contribuir para a contenção no consumo de água, mas às vezes é difícil convencer os funcionários de alguns estabelecimentos para essa necessidade, contou uma empresária à Lusa.

“Eu não trabalho aqui sozinha. Eu tento dizer aos meus empregados para não gastarem tanta água, nós não podemos estar sempre em cima deles, mas vamos tentar fazer um esforço por isso”, afirmou Manuela Henriques, dona de um restaurante na Estrada Nacional 125.

A empresária está convencida que os turistas estrangeiros estão “mais consciencializados para esses problemas” do que os nacionais, defendendo que os responsáveis públicos deveriam promover campanhas de informação a apelar à poupança de água.

Uma outra medida que deverá ser anunciada nesta área é a da criação de um “selo verde” a atestar que determinada unidade hoteleira cumpre regras de sustentabilidade, estando a fazer um esforço para reduzir o consumo de água, como forma de luta contra a seca extrema provocada pelas alterações climáticas.

 
A maior parte das pessoas contactadas pela agência Lusa está disposta a fazer um esforço, apesar de algumas estarem menos otimistas sobre os seus possíveis resultados.

“Se não tivermos outra hipótese, teremos que o fazer, mas não é fácil. Porque as pessoas com os salários que têm já fazem muita atenção à água. Poderemos fazer um bocadinho mais, mas não é fácil”, afirmou uma transeunte no calçadão de Quarteira.

Segundo ela, também vai ser difícil convencer os muitos turistas que a região mais a sul recebe sobre a importância de reduzir o consumo de água: “Eu não acho que os turistas vêm de férias a pensar em economizar água, porque vão dizer que não pagam para isso”, referiu.

Mesmo assim, esta quarteirense afirmou que vai fazer um esforço e que, se for preciso, as pessoas, em vez de tomarem um banho todos os dias, terão de o fazer mais espaçadamente.

Alguns jovens algarvios ouvidos pela Lusa parecem mais sensibilizados para o problema e avançam mesmo com ideias para ajudar a reduzir o consumo de água.

“Talvez alterar alguns comportamentos. Como por exemplo, não ter a torneira sempre ligada quanto estou a lavar os dentes ou até mesmo desligar o chuveiro quando estou a usar o champô”, afirmou Ana Rita Vieira.

 
A jovem está convencida, mesmo assim, que para alguns vai ser difícil gastar menos água numa época “bastante consumista”, mas conclui que, “se todos fizerem um esforço, vamos conseguir”.

Ao lado dela, uma amiga, Elvira Oblyvana, também considera “difícil” mudar as atitudes de consumo, mas assegura que se vai esforçar, avançando que vai gastar menos água “a tirar a maquilhagem” da cara e reduzir o tempo que demora a tomar duche.

“Acho que nós conseguimos facilmente poupar 15% de água”, disse por seu lado Lucina Tomé, que compreende porque é que as autoridades estão a pedir uma poupança no consumo, um apelo que, segundo ela, também é feito pelo seu pai.

Também a passear no conhecido calçadão de Quarteira, a reformada Madalena Diogo defendeu que a atitude de cada um vai depender da sua “consciência”.

“Em termos governamentais, se calhar, era preciso ter tomado medidas mais cedo, porque isto era previsto. Agora vamos ver o que é que cada um é capaz de fazer”, resumiu.

O executivo anunciou que o Algarve vai ter cortes de água este ano de 25% na agricultura e de 15% no setor urbano, que inclui o turismo, para preservar as reservas de água e fazer face à seca.

 
O ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, indicou que ao todo são 46 as medidas que deverão constar de uma resolução do Conselho de Ministros que vai ser aprovada em breve para assegurar o objetivo.

“Estamos a fechar um pacote de medidas […] que vamos tomar no curto prazo. Algumas delas têm a ver com redutores de caudal, nomeadamente nos duches, nos apoios sanitários”, entre outras, disse João Soares, acrescentando que as medidas vão ser tomadas “sem prejudicar, obviamente, os clientes”.

A redução de pressão nos caudais, a suspensão dos segundos contadores e medidas específicas para o setor turístico foram avançadas por Duarte Cordeiro, esperando-se que nos próximos dias seja conhecido o conjunto integral de medidas.

Segundo Duarte Cordeiro, as medidas são obrigatórias face à atual situação no Algarve, onde a capacidade das albufeiras se encontra a um nível de 25%, comparado com os 45% do ano passado pela mesma altura.

Os técnicos estão convencidos de que, se nada for feito, a região só tem água até ao fim de agosto e que o pacote de medidas vai permitir prolongar a sua existência até ao fim do ano.

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