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Hospital Santa Maria alarga serviço espiritual e religioso a outras crenças

Lusa
16-11-2023 16:35h

Os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, em Lisboa, estão a alargar o serviço de assistência espiritual e religiosa, que apoiava até agora apenas os católicos, a outras comunidades religiosas, revelou hoje o Padre Fernando Sampaio.

“Estamos a fazer a acreditação de assistência espiritual de outras comunidades religiosas reconhecidas”, contou o Padre Fernando Sampaio, coordenador do projeto, durante uma sessão na Aula Magna da Faculdade de Medicina do Hospital de Santa Maria.

Até agora, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) contava apenas com o apoio do Padre Fernando Sampaio e do Padre Zé André, não havendo resposta para pacientes ou familiares de outros cultos.

Mas Fernando Sampaio já começou a receber representantes de grupos religiosos, como os mórmones ou os muçulmanos, num processo que quer que chegue ao maior número de crenças.

O capelão defendeu a importância da assistência espiritual quando os “analgésicos já não ajudam”, dando como exemplo “os últimos tempos” da atriz Ivone Silva, quando estava internada no Instituto Português de Oncologia.

“Por vezes, a dor não é física, mas sim de natureza espiritual”, disse, lembrando que depois de estar sentado ao lado da atriz a “conversar sobre dor e sofrimento, Ivone Silva ficava tranquila”.

O Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa (SAER) no (CHULN) vai passar a contar com outros líderes religiosos, cumprindo assim um decreto-lei que tem mais de uma década.

“Já estamos atrasados”, reconheceu o capelão, lembrando que a assistência religiosa é um direito do doente, mas ainda há muito por fazer.

Por garantir estão direitos como o de informar os pacientes internados da existência do SAER: “Isto nunca foi feito”, afirmou o capelão.

Existem também complicadas questões operacionais com as quais os dois padres já se debatem diariamente, como é o caso das confissões quando os pacientes não se conseguem deslocar até ao espaço de culto.

“Existem dificuldades tremendas quando alguém se quer confessar numa enfermaria onde estão quatro pessoas, separadas apenas por cortinas”, exemplificou, lembrando que “às vezes as pessoas têm situações complicadas na sua vida” que não querem tornar públicas.

Apesar das dificuldades, até hoje, a Comissão da Liberdade Religiosa não recebeu “nenhuma queixa sobre assistência religiosa nos serviços de saúde”, garantiu o presidente daquele organismo, Vera Jardim.

“Corre tudo bem nesta matéria em todo o país?! Duvido”, acabou por acrescentar Vera Jardim, admitindo que gostaria que a ausência de queixas fosse uma “boa notícia”, mas reconhecendo que poderá tratar-se de “desconhecimento dos direitos” dos doentes.

“Aqui, nestes ambientes, joga-se muitas vezes entre a vida e a morte, e o sofrimento”, sublinhou o ex-ministro da Justiça, defendendo por isso que “se alguém estiver a morrer e pedir assistência religiosa, o sacerdote tem de ir para junto do doente mesmo que não tenha o cartão [de identificação] consigo”.

Para Vera Jardim, a liberdade de culto é um direito fundamental, tão importante como a liberdade de opinião ou de reunião, até porque Portugal é “uma sociedade cada vez menos homogénea”.

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