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Sudão: MSF pedem fim da proibição do transporte de material cirúrgico vital

Lusa
15-11-2023 20:27h

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) apelaram hoje ao grupo paramilitar sudanês Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) para que levantem a proibição de transporte de material cirúrgico vital para os hospitais da capital, Cartum.

"A medida está em vigor desde o início de setembro e foi comunicada aos MSF pelas autoridades sudanesas no dia 02 de outubro. O objetivo da proibição é impedir que os soldados feridos recebam tratamento que pode salvar vidas na capital", afirmou hoje a organização não-governamental através de um comunicado.

Os MSF frisaram que a proibição do acesso aos cuidados médicos não só é contrária às leis internacionais da guerra - com as quais o exército sudanês e as RSF se comprometeram na declaração de Jedah, em maio - como terá consequências mortais para a vida dos civis, "que também são privados de tratamento".

"A proibição é uma tática impiedosa que provavelmente causará a morte evitável de centenas de pessoas em Cartum nas próximas semanas", disse a gestora de emergência dos MSF no Sudão, Claire Nicolet.

A título de exemplo, Claire Nicolet explicou que as cesarianas representam dois terços das cirurgias que os MSF efetuam no hospital Turco, um dos poucos hospitais do sul de Cartum onde ainda existe uma sala de operações em pleno funcionamento, e que nos últimos dois meses foram realizadas 170 operações deste tipo.

"Sem esta intervenção, muitas destas mulheres e dos seus recém-nascidos teriam morrido. As mulheres que necessitam de cesarianas já têm muito poucas opções em Cartum. Se continuarmos a não ter permissão para trazer equipamentos cirúrgicos para o nosso hospital, elas ficarão sem nenhuma opção", concluiu.

Na nota, os MSF apontam que negar a alguém um tratamento que pode salvar a sua vida viola os valores da ética médica e pedem que sejam levantadas todas as restrições.

A guerra no Sudão eclodiu na sequência de divergências entre o exército e as RSF sobre a integração do grupo paramilitar nas forças armadas, o que fez descarrilar o processo de transição que se seguiu ao derrube do antigo Presidente Omar Hassan al-Bashir, após 30 anos no poder.

O conflito já causou milhares de mortos e mais de sete milhões de deslocados internos no Sudão, tornando-o o país africano com o maior número de deslocados internos do mundo, segundo as Nações Unidas.

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