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Arranca na Guiné-Bissau campanha para cirurgia a mulheres com fístula obstétrica

LUSA
21-09-2022 17:46h

O Ministério da Saúde Pública da Guiné-Bissau iniciou hoje uma campanha para efetuar cirurgia a 30 mulheres afetadas pela fístula obstétrica, anunciou a secretária de Estado da Gestão Hospitalar, Maria de Fátima Vieira.

Numa cerimónia de lançamento da campanha, no Hospital Simão Mendes, em Bissau, a secretária de Estado defendeu que a fístula obstétrica “é um dos graves problemas da saúde pública” na Guiné-Bissau.

“Estamos a dar início a mais uma ação de luta contra a fístula obstétrica (…) que é a consequência de desigualdades de género, da pobreza, debilidades dos serviços de saúde, casamento prematuro das meninas, gravidez precoce e desnutrição”, notou Maria de Fátima Vieira.

A fístula é uma rutura do canal vaginal causada por partos demorados, obstrução no momento de a mulher dar à luz ou ainda por ausência de cuidados pré-natais, explicou o médico cirurgião guineense Siuna Guad, especialista na doença.

“A fístula obstétrica atinge mais as mulheres que não são assistidas antes do parto. Muitas das vezes são mulheres que não fazem consultas enquanto o marido não se decide, ninguém da família tem coragem de levar a grávida à consulta e dá nisto”, observou o cirurgião que se dedica à reparação de casos de fístula.

As mulheres com problemas de fístula obstétrica acabam por ter incontinência urinária e, em casos extremos, vazamento de fezes, situações que se não forem tratadas geram infeções crónicas e infertilidade, afirmam os especialistas na doença.

O médico Siuna Guad apontou as regiões de Bafatá e Gabú, no leste, e Bissau, como as zonas de maior prevalência de casos de fístula.

Nas ilhas dos Bijagós, no sul, o médico afirmou que existem “alguns casos”, mas que as dificuldades de ligações marítimas com o continente levam a que não haja um número determinado.

Os líderes africanos pretendem erradicar a fístula obstétrica no continente até 2030, mas no caso da Guiné-Bissau, Siuna Guad defende que sem uma ampla campanha de sensibilização à população dificilmente a meta será atingida.

“Só as campanhas pontuais não vão resolver o problema”, notou o médico, que sublinha que em dois dias de abertura da campanha já tem 30 mulheres para serem operadas nas próximas semanas no Hospital Simão Mendes.

O representante do Fundo da População das Nações Unidas, Jocely Fernard, disse que, projeções feitas pela Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos da América, apontam que na Guiné-Bissau a prevalência de fístula obstétrica será de 64 casos por ano.

Os mesmos dados indicam que desde 2009, 347 mulheres guineenses foram operadas aos problemas da fístula obstétrica, acrescentou.

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