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Constrangimentos na Urgência deixam bombeiros de Torres Vedras com uma ambulância várias horas

LUSA
04-07-2022 19:39h

A corporação de bombeiros de Torres Vedras esteve hoje cinco horas com apenas uma ambulância disponível, devido ao encerramento das urgências do hospital ao CODU, obrigando ao encaminhamento de doentes para outros hospitais, denunciou o comando.

“Das onze ambulâncias da corporação, dez estiveram fora do quartel entre as 11:00 e as 16:00, ficando apenas uma ambulância disponível para todos os pedidos de socorro”, disse à agência Lusa o comandante dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras, Hugo Jorge.

De acordo com o comandante, a situação teve por base “o fecho das urgências do Hospital de Torres Vedras a doentes encaminhados pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)”, situação que obrigou a transportar os doentes “sobretudo para os hospitais de Loures e de Santa Maria [em Lisboa], o que resulta numa maior demora dos serviços”.

Uma situação “recorrente deste outubro” e que se tem verificado “com maior incidência nos últimos tempos, pondo em risco a capacidade de meios de socorro e sobrecarregando os bombeiros”, afirmou o comandante da corporação.

A situação mais crítica verificou-se hoje, com “apenas uma ambulância no quartel”, mas, segundo o comandante, “já no sábado a corporação foi chamada para 30 emergências médicas, cujos doentes tiveram que ser reencaminhados, devido ao encerramento das urgências ao CODU”.

Hugo Jorge alerta que “se esta situação se repetir, se houver um acidente com apenas uma ambulância no quartel, não haverá capacidade de resposta desta corporação”, podendo haver ainda o risco de as corporações mais próximas (Lourinhã, Merceana, Sobral de Monte Agraço e Cadaval) “poderem ter também todas as ambulâncias em serviço, já que estas populações são também servidas pelo Hospital de Torres Vedras e, tendo estas corporações o mesmo problema com o tempo que gastam a levar os doentes para Loures ou Lisboa”.

“Não há planeamento que consiga aguentar isto e qualquer dia não temos bombeiros”, lamentou o comandante, alertando que “os voluntários não podem estar sujeitos a serviços que não sabem quantas horas demoram, quando depois têm que ir para os seus trabalhos, esgotados, muitas vezes sem dormir”.

Contactado pela agência Lusa, o Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar do Oeste (CHO), onde se integra o Hospital de Torres Vedras, confirmou a existência de “alguns constrangimentos” na Urgência Médico-Cirúrgica desta unidade, durante o dia de hoje, “designadamente porque está a decorrer a mudança de instalações do Serviço de Urgência para duas áreas de transição, o que vai permitir a libertação do espaço da Urgência para a realização da obra de remodelação da mesma”.

Esta obra vai iniciar-se no final da semana e decorrerá ao longo dos próximos seis meses, adiantou o CA.

Assim, “foi solicitado ao CODU o reencaminhamento de doentes críticos para outras unidades hospitalares, de acordo com a situação clínica”, procedimento utilizado há anos na gestão da procura pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que “salvaguarda o atendimento com celeridade de doentes com situação clínica complexa ou exigente, assegurando que são encaminhados para outras unidades da região, as quais assegurarão a resposta e o funcionamento em rede”.

Os hospitais que, por períodos transitórios, acionam o desvio de CODU mantêm a urgência externa a funcionar: todos os doentes que se desloquem diretamente às urgências são admitidos e atendidos.

Em resposta à Lusa, o CA assegurou ainda que a Urgência Médico-Cirúrgica da Unidade das Caldas da Rainha, outra das unidades do CHO, “está a funcionar normalmente” e “a rececionar alguns doentes" de Torres Vedras.

Hugo Jorge afirmou, no entanto, que “só depois das 16:00, após queixas sobre a falta de ambulâncias, é que houve indicação para transportar doentes para as Caldas” e que esta solução “não contribui para que os serviços sejam mais céleres”.

No dia anterior, domingo, “tivemos ambulâncias retidas neste hospital, com doentes em macas à espera para serem atentidos durante várias horas”, explicou.

Ainda segundo o CA, a obra de remodelação da Urgência Médico-Cirúrgica de Torres Vedras vai iniciar-se no final da semana e decorrerá ao longo dos próximos seis meses, apelando à compreensão dos utentes e lamentando, “desde já, os constrangimentos que a empreitada irá causar, na expectativa que a obra irá promover uma melhoria das condições físicas”.

Nestas circunstâncias, “podem ocorrer demoras com as ambulâncias, relacionadas com a falta de espaço para alocar mais doentes no interior do Serviço de Urgência, as quais são resolvidas logo que viável”, refere ainda o Conselho de Administração.

Às 18:00, das 11 ambulâncias da corporação de Torres Vedras, sete já se encontravam no quartel, e quatro estavam empenhadas no transporte de doentes para as urgências dos hospitais de Loures e Santa Maria, em Lisboa.

O Centro Hospitalar do Oeste integra os hospitais de Caldas da Rainha, Torres Vedras e Peniche, tendo uma área de influência constituída pelas populações dos concelhos de Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral, Torres Vedras, Cadaval e Lourinhã e de parte dos concelhos de Alcobaça e de Mafra.

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