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Etiópia: Diretor do África CDC diz que todos os conflitos dificultam ações humanitárias

LUSA
13-01-2022 14:00h

O diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana relativizou hoje declarações do diretor-geral da OMS sobre a crise na região etíope de Tigray, lembrando que todos os conflitos dificultam as intervenções humanitárias.

“Como em todas as regiões em conflito, é muito difícil qualquer intervenção. Não é apenas na região de Tigray. Em todas as partes do continente que vivem crises ou instabilidade ou insegurança torna-se extremamente difícil [intervir]”, disse John Nkengasong.

O diretor do África CDC, organização sediada na capital da Etiópia, respondia assim a uma pergunta dos jornalistas sobre declarações do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que na quarta-feira classificou como um “insulto à humanidade” o bloqueio da ajuda humanitária em Tigray, que disse ter provocado um verdadeiro "inferno", único no mundo.

Nkengasong, que falava na conferência de imprensa semanal do África CDC sobre a situação da covid-19 em África, disse que todos os conflitos no mundo dificultam a resposta às doenças, lembrando que também a epidemia de ébola demorou mais a combater na região congolesa de Kivu do Norte devido ao conflito que ali havia.

“Por isso o que vemos em Tigray não é único”, disse.

“Os conflitos destroem os sistemas de saúde, inibem a capacidade de a saúde pública ocorrer. Eu digo sempre que o conflito gera doenças e que as doenças exacerbam os conflitos”, afirmou.

Perante a insistência dos jornalistas, Nkengasong remeteu para a União Africana (UA) uma avaliação da situação política e de segurança em Tigray e uma eventual comparação da gravidade desse com outros conflitos.

Esclareceu ainda que o África CDC é uma agência técnica da UA e não tem atualmente pessoal em Tigray, já que os profissionais que tinha na região regressaram à sede quando começou o conflito.

A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando Abiy Ahmed enviou o Exército federal para a província no norte do país, com a missão de retirar pela força as autoridades locais, que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há meses.

O conflito provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.

Os intensos esforços diplomáticos, incluindo os da União Africana, para alcançar um cessar-fogo, não produziram até agora qualquer progresso decisivo.

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