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Eutanásia: A "cabeça sem corpo" de Ramón Sampedro como símbolo da morte "com dignidade"

LUSA
15-02-2020 09:58h

O caso do tetraplégico espanhol Ramón Sampedro colocou o debate sobre a eutanásia nos ecrãs do mundo, através do filme “Mar Adentro”, e levou a discussão do cinema e das televisões para as ruas.

Em Portugal, a Assembleia da República agendou para 20 de fevereiro o debate dos projetos do BE, PS, PAN e PEV sobre a despenalização da morte medicamente assistida. Em Espanha, o parlamento aprovou esta semana na generalidade o projeto-lei do PSOE sobre a eutanásia, com os votos favoráveis dos restantes partidos, exceto o PP e o Vox.

A associação espanhola Direito a Morrer Dignamente considera que o caso de Ramón Sampedro foi “muito importante porque levou o debate sobre a eutanásia a toda a população”.

“Sou uma cabeça sem corpo”, afirmava Ramón Sampedro, que em 1968 ficou tetraplégico, na sequência de um mergulho na praia, ficando com uma imobilidade total do corpo, exceto da cabeça.

Ramón Sampedro tornou público o seu desejo de morrer no início de 1990, mas só oito anos depois conseguiu um suicídio assistido, através da ajuda de uma amiga, tendo gravado um vídeo da sua morte que foi divulgado nas televisões e voltou a despertar a sociedade para o debate sobre a despenalização da morte assistida.

A associação espanhola Direito a Morrer Dignamente considera que, graças à sua luta e às suas reivindicações, Ramón Sampedro contribuiu para que, em 1995, fosse aprovada uma reforma do Código Penal que reduziu as condenações em caso de eutanásia e de assistência ao suicídio.

Ramón Sampedro lutou durante cerca de três décadas pelo reconhecimento legal de ter ajuda a morrer com dignidade.

Antes de se suicidar, Ramón Sampedro publicou, em 1996, um livro que é uma espécie de mistura entre uma autobiografia e um livro de poemas intitulado “Cartas desde o Inferno”.

Quase seis anos após a sua morte, chegou o filme baseado na sua luta, pela mão do realizador Alejandro Amenabar e interpretado pelo ator Javier Bardem.

“Mar Adentro” ganhou diversões galardões, como 14 prémios Goya, os prémios mais importantes do cinema espanhol, e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2005.

No seu livro, que vendeu mais de 100 mil exemplares só em Espanha, Ramón Sampedro responde, em poesia, à pergunta “Porquê morrer?”: “Morrer é jogar uma única carta durante toda a nossa vida / É apostar tudo no desejo de encontrar uma estrela que nos dê um novo caminho”.

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