Muitos refugiados congoleses que regressam de Angola ainda enfrentam condições muito difíceis, alertou hoje o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que está a prestar-lhes apoio.
Segundo esta organização das Nações Unidas, os refugiados receberam ajuda em dinheiro, no registo da sua identificação e com o transporte, mas as condições difíceis ainda se mantêm.
Caminharam durante dias, dormindo à beira da estrada e carregando todos os seus bens. Algumas famílias que regressaram espontaneamente não sabem para onde ir ou têm medo de voltar para suas casas.
Muitas mulheres grávidas, idosos e pessoas vulneráveis tomaram a iniciativa de deixar Angola, como explicou Rose, 54 anos, que também optou por voltar com o marido e filhos antes do regresso organizado.
“Quando chegámos ficámos hospedados em famílias de acolhimento e nas igrejas. Algumas igrejas chegaram a acolher cinco famílias e outras até dez”, contou.
O regresso organizado começou em outubro do ano passado, após um acordo tripartido entre o ACNUR e o governo de Angola e a República Democrática do Congo.
Até ao final do primeiro trimestre do ano, o ACNUR estima alcançar o regresso de 19.000 refugiados.
Algumas semanas após o seu regresso, o ACNUR visitou algumas famílias em Tshikapa, uma cidade em Casai, onde muitos optaram por regressar.
Estar em casa é um alívio, mas mesmo com assistência para a cobertura das necessidades básicas, muitos continuam a lutar.
Chadrack Neta vive numa casa alugada com quatro de seus filhos, tendo uma das suas filhas desaparecido durante o conflito. Perdeu a sua quinta e propriedade quando precisaram de fugir de Kasai. Outra filha precisa de muletas para caminhar depois de ter sido atacada por homens armados. A sua esposa foi baleada e ainda precisa de assistência médica.
“Antes da guerra, eu era dono de uma quinta onde tinha porcos, galinhas, ovelhas e muitas outras coisas", afirmou Chadrack, acrescentando: "Até tinha uma fazenda de peixes. Uma vez recebi uma chamada dizendo que a minha fazenda agora tinha sido dada a outra pessoa. Eu não sei como vou recuperá-la".
Assiya, outra refugiada que voltou a Tshikapa com o seu marido Moussa e os seus três filhos, acrescenta que a assistência em dinheiro não é suficiente.
"Pagámos quatro meses de aluguer adiantado com o dinheiro que nos foi dado", contou, afirmando que não sabe o que vai fazer depois de o dinheiro acabar.