O internista António Pais Lacerda apelou hoje para que as pessoas mantenham "ao máximo” a proteção contra a covid-19 e pensem que não estão a proteger-se de uma doença viral aguda a curto prazo, mas de repercussões no futuro.
“Muitas doenças que conhecemos têm repercussões a longo prazo e nós não fazemos ideia nenhuma do que são as repercussões a médio e a longo prazo” da covid-19, afirmou à agência Lusa o diretor do serviço de Medicina Interna II do Hospital Santa Maria, em Lisboa, onde o número de doentes internados tem vindo a aumentar, totalizando 34 na terça-feira, nove dos quais em cuidados intensivos.
“Nós achamos que (a covid-19) é uma infeção que matava muito as pessoas mais idosas. É verdade que podem ser resolvidas, com maior ou menor dificuldade, as situações de pessoas de meia-idade e jovens, mas isso é a curto prazo”, sublinhou.
Pais Lacerda lembra que no que as pessoas têm de pensar é nos efeitos da infeção por SARS-Cov-2 no futuro. “Nós conhecemos esta doença há pouco tempo, desde dezembro de 2019, e não sabemos o que acontecerá daqui a cinco, 10 ou 20 anos a todas as pessoas que ficaram infetadas”.
“Portanto, as pessoas têm de pensar que não é só a questão de se protegerem [a si e aos outros] por causa de uma doença viral aguda é protegerem-se para o seu futuro”, defendeu António Pais Lacerda.
Para o especialista, a “melhor vacina” neste momento, enquanto as pessoas não estão todas vacinadas, é o uso da máscara, a higienização das mãos e o distanciamento físico.
“Nós não sabemos quem é que está ao nosso lado. Nos anos 80 houve a infeção pelo VIH e é evidente que as pessoas quando estavam a fazer sexo com alguém não sabiam [se tinha a doença] porque a pessoa não tinha um letreiro na testa a dizer ‘eu estou infetado’. O mesmo se passa com a covid-19. Há pessoas que podem estar infetadas com este vírus respiratório e também não têm o letreiro a dizer que estão infetadas e podem não ter sintomas e estar a transmitir essa infeção a outras pessoas que estejam perto”, disse.
António Pais Lacerda observou ainda que a noção de que a doença nos jovens é ligeira "é verdade em grande número de casos”, mas advertiu que há alguns que acabam mesmo por ter de deslocar-se ao hospital e podem ter doenças “muito graves” que implicam em alguns casos cuidados intensivos, “mesmo na casa dos 20 anos”.
“É uma doença ligeira para muita gente, mas nunca se sabe em quem a doença vai ser mais grave”, alertou o especialista.
Perante esta situação, as medidas de proteção devem ser mantidas “ao máximo”, apesar de a vida das pessoas ter de ser “o mais normalizada possível”, sublinhou António Pais Lacerda.
Portugal registou nas últimas 24 horas mais 1.350 casos confirmados de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2, o número diário mais alto desde fevereiro, e mais seis pessoas morreram com covid-19, segundo a Direção-Geral da Saúde.
O número de pessoas internadas subiu para 351, mais cinco do que na terça-feira, das quais 83 em cuidados intensivos.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, morreram em Portugal 17.055 pessoas com covid-19 e foram registados 860.395 casos de infeção.