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Vírus: Oposição da Guiné Equatorial critica doação de 1,8 ME do Governo para a China

LUSA
06-02-2020 22:44h

O partido da Convergência para a Democracia Social (CPDS, oposição) da Guiné Equatorial recebeu "com espanto e indignação" a notícia de que o Governo doou à China dois milhões de dólares para o combate ao surto do novo coronavírus.

Num comunicado hoje enviado à Lusa, a CPDS refere que reagiu "com espanto e indignação a notícia de que o Governo da Guiné Equatorial, presidido pelo general Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, doou à República Popular da China a soma de dois milhões de dólares norte-americanos [1,8 milhões de euros]".

"A China, a segunda maior economia do mundo, tem recursos mais do que suficientes para lidar com essa epidemia, não só por causa de seus recursos materiais e humanos, mas também por causa de sua experiência no combate a epidemias semelhantes no passado recente", sustenta o partido.

A CPDS acrescenta que a Guiné Equatorial está "mergulhada numa profunda crise económica" devido à "corrupção e má gestão" de um país que chegou a "ser o terceiro maior produtor de hidrocarbonetos da África subsariana".

A oposição equato-guineense denuncia que "os poucos hospitais não estão equipados ou não têm medicamentos suficientes para cuidar dos pacientes".

No comunicado, a CPDS cita ainda o Banco Mundial, através da Human Rights Watch, que aponta para um gasto de "80% do orçamento anual em infraestruturas, muitas delas inúteis" pelo Governo de Obiang, "enquanto gastou apenas 3% em educação e saúde".

Apontando outros indicadores como a elevada taxa de pobreza ou a discrepância entre o produto interno bruto e a sua classificação no índice de desenvolvimento humano, a CPDS questiona: "Como pode este Governo conceder dois milhões de dólares em ajuda à China?".

"Se fosse uma questão de solidariedade, o apoio poderia ser simbólico, limitado a uma declaração de apoio moral", nota, acrescentando: "Dois milhões de dólares não é muito para o gigante asiático, mas é para um país empobrecido como a Guiné Equatorial".

"A CPDS solidariza-se com o povo e o Governo da República Popular da China e confia na ciência, tecnologia e poder económico dos chineses para que o país ganhe a batalha contra o coronavírus e volte rapidamente à normalidade", vincou o partido.

A oposição concluiu a missiva criticando "o uso abusivo dos recursos da Guiné Equatorial pelo general Obiang", que dizem administrar o país "como se fosse a sua propriedade familiar, seguindo apenas os interesses políticos pessoais".

Na quarta-feira, o Governo da Guiné Equatorial anunciou o envio de dois milhões de dólares para a China "devido à complicada situação da epidemia de coronavírus que afeta o gigante asiático".

Numa publicação oficial no portal do Governo, que cita um anúncio feito pelo ministro da Informação, e porta-voz governamental, Eugenio Nze Obiang, o executivo equato-guineense anunciou que o montante será "acompanhado por uma mensagem de solidariedade".

"Impactado pela dimensão da tragédia, o chefe de Estado decidiu colocar à disposição deste povo irmão a soma de dois milhões de dólares, para enfrentar as despesas e outras ações relacionadas, para pôr fim a esta dramática situação humanitária", refere o comunicado no portal do Governo de Malabo.

O porta-voz do executivo afirmou que a China "tem sido um parceiro estratégico para o desenvolvimento da Guiné Equatorial".

A China elevou hoje para 563 mortos e mais de 28 mil infetados o balanço do surto do coronavírus '2019-nCoV', identificado em dezembro na cidade de Wuhan, colocada sob quarentena.

Além do território continental da China e das regiões de Macau e Hong Kong, há casos de infeção confirmados em mais de 20 países.

A Organização Mundial de Saúde declarou há uma semana o surto do novo coronavírus uma emergência de saúde pública internacional devido ao risco elevado de propagação do '2019-nCoV' à escala global.

A emergência internacional supõe a adoção de medidas de prevenção e coordenação em termos mundiais.

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