Cerca de 4.500 crianças morreram, em 2019, na República Democrática do Congo (RDCongo) no pior surto de sarampo da última década neste país da África Central, anunciou hoje a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Segundo a organização, três em cada quatro mortes causadas pela doença, contagiosa e considerada como uma das principais causas de mortalidade infantil, foram de crianças, para as quais existe uma vacina segura e barata.
O surto começou em meados de 2018, mas só foi oficialmente declarado como tal em junho de 2019, fazendo com que mais de 310.000 pessoas contraíssem a doença e mais de 6.000 morressem, uma taxa de mortalidade superior à dos surtos anteriores.
Todas as províncias da RDCongo foram afetadas por este surto, que foi mais mortal do que o do Ébola, que foi classificado como uma emergência internacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A OMS já tinha advertido em janeiro para a situação alarmante provocada pelo sarampo, dando os mesmos números e especificando que 25% dos casos são diagnosticados em crianças com menos de 5 anos de idade.
O sarampo é uma doença viral, altamente contagiosa, que causa febre e complicações respiratórias, especialmente em adultos jovens.
A OMS alertou que a falta de financiamento está a ser um "grande impedimento" para fazer abrandar o surto e estimou que são necessários mais 40 milhões de dólares (36,3 milhões de euros) para financiar a assistência médica e a extensão do plano de vacinação durante os próximos seis meses.
O surto foi ampliado, não só pelos baixos níveis de vacinação, mas também por problemas como o difícil acesso a algumas áreas, de má nutrição em muitos setores da população e ainda pelas fracas infraestruturas sanitárias congolesas.
"Há alguns dias recebemos uma mãe que veio com os seus dois filhos doentes de uma aldeia a 20 quilómetros de distância. As duas crianças tinham sido hospitalizadas por 10 dias em dois centros de saúde perto de casa, mas o tratamento que receberam não funcionou", explicou o coordenador dos MSF numa das províncias congolesas, Kongo Central, Roland Fourcaud.
A insegurança também é considerada outro problema grave em algumas das zonas afetadas, num país onde mais de uma centena de grupos armados estão a operar e a cometer assassínios frequentes.
Uma das áreas mais afetadas pela questão da insegurança é o nordeste do país, uma região que também está a lutar desde agosto de 2018 com um surto de Ébola, que matou 2.251 pessoas - quase um terço dos mortos pelo sarampo - com 3.429 casos.