O economista Albano Martins disse hoje à Lusa que Macau pode perder 15 mil milhões de patacas do Produto Interno Bruto (PIB) em apenas 15 dias de paralisação económica, motivada pelas medidas excecionais para conter o novo coronavírus.
“Tendo em conta o comportamento da economia em 2019, as minhas projeções apontam para perdas de 15 mil milhões de patacas [1,7 mil milhões d euros] do PIB”, afirmou o economista de Macau.
Por outro lado, sublinhou, o Governo de Macau - que determinou o fecho dos casinos por duas semanas -, pode deixar de arrecadar receita no valor de 4,7 mil milhões de patacas (530 milhões de euros).
“Isto é uma projeção para apenas 15 dias. Se a situação se arrastar, e eu acredito que sim, então o impacto vai ser dramático, para a economia em geral, para as operadoras de jogo em particular, e para as pessoas”, sublinhou.
Para o economista, “o Governo está a ser alarmista em algumas das medidas anunciadas” e a crise vem confirmar dois fatores que os analistas têm criticado reiteradamente: a forte dependência do mercado turístico chinês e a incapacidade de se garantir a diversificação da economia.
Finalmente, Albano Martins afirmou que “a situação ainda é mais complicada porque, com a questão do concurso público para a exploração do jogo [apontado para 2022], nenhuma operadora vai querer hostilizar o Governo e avançar para, por exemplo, o corte de salários”, defendeu.
“Toda a gente vai querer agradar ao Governo”, concluiu.
As receitas dos casinos em Macau já tinham descido 11,3% em janeiro, em relação a igual período de 2019, um resultado explicado pelas autoridades pelo surto do novo coronavírus, que reduziu o fluxo de jogadores na capital mundial do jogo.
Para ilustrar a dimensão da perda turística, o número de visitantes a Macau durante a chamada "semana dourada" do Ano Novo Lunar, de 24 a 31 de janeiro, desceu quase 80%, em relação a igual período de 2019.
No final de janeiro, a agência de notação financeira Fitch Ratings avisara que se o surto do coronavírus continuasse a alastrar o impacto seria significativo, ainda que temporário, no fluxo de caixa dos casinos de Macau.
Na terça-feira, no dia em que foi anunciado o 10.º caso de infeção em Macau e o fecho dos casinos, o chefe do Governo de Macau determinou também o encerramento de muitos outros espaços, num despacho que teve efeito a partir de hoje.
A ordem de encerramento foi dada a cinemas, teatros, parques de diversão em recintos fechados, salas de máquinas de diversão e jogos de vídeo, cibercafés, salas de jogos de bilhar e de 'bowling', estabelecimentos de saunas e massagens, salões de beleza, ginásios de musculação, estabelecimentos de ‘health club’ e ‘karaoke’, ‘night clubs’, discotecas, salas de dança e ‘cabaret’.
A frequência do transporte público foi novamente reduzida e todos os parques públicos foram encerrados.
Macau já tinha anunciado a 24 de janeiro a suspensão de serviços público, o encerramento de espaços culturais e desportivos, bem com o adiamento do regresso às aulas.
A estas medidas junta-se a obrigatoriedade de usar máscaras nos transportes públicos e o apelo do Governo para que as pessoas se mantenham em casa, de forma a evitar o risco de contágio.
Apesar dos apelos do Governo de Macau para a população manter a calma, e mesmo assegurando que existem alimentos suficientes em 'stock' e centenas de toneladas de produtos já encomendadas, as pessoas acorreram em massa aos supermercados na terça-feira.
O número de mortos provocados pelo novo coronavírus (2019-nCoV) subiu hoje para 490, e o total de pessoas infetadas aumentou para 24.324.