A população de Macau acorreu em massa aos supermercados para comprar produtos alimentícios, poucas horas após o Governo de Macau ter anunciado medidas excecionais para combater o surto do novo coronavírus e ter apelado à calma.
Em pelos menos seis supermercados da ilha da Taipa, o cenário era o mesmo: corredores cheios de pessoas, filas enormes para efetuar o pagamento, com as pessoas, de máscara, a empurrarem carros de compras onde se encontravam empilhadas embalagens de carne, enlatados, sacos de arroz e garrafões de água.
Antes da hora do almoço, os supermercados estavam praticamente vazios. Às 13:00 (05:00 em Lisboa), o chefe do Governo promoveu uma conferência de imprensa, com direito a transmissão direta na televisão local. Um par de horas depois, de Ho Iat Seng ter garantido que o Governo estava a acautelar a normal reposição dos 'stocks' e apelar aos cidadãos que não corressem aos supermercados para comprar alimentos, os trabalhadores do comércio local não tinham 'mãos a medir'.
O governante explicara que o encerramento das fronteiras era uma decisão difícil porque se impunha avaliar o impacto no fornecimento de alimentos ao território e adicionava constrangimentos à rotina diária de muitos residentes de Macau e de muitos trabalhadores do território que vivem na China.
"Não estamos a encerrar nenhuma fronteira, não vão a correr comprar alimentos. Temos 'stock' suficiente, não se preocupem", assegurou.
O responsável apelou ainda à população para que não saia de casa e “reduza ao máximo as atividades comerciais”. “Não posso mandar encerrá-los”, disse, sobre os espaços comerciais, mas “se não tiverem clientes, os próprios comerciantes vão decidir encerrar os negócios", sustentou.
Resultado, pouco depois era possível ver filas nas ruas para entrar em espaços que vendem congelados, que rivalizavam com outras que se mantêm há mais de uma semana para se adquirir máscaras de venda racionada nas farmácias.
O chefe do Executivo de Macau admitiu hoje que o território está a ponderar encerrar as fronteiras com a China, mas que para já apenas está decidido o encerramento temporário dos casinos, devido ao novo coronavírus.
As autoridades informaram que mais de 2,9 milhões de máscaras foram vendidas, desde o anúncio do primeiro caso de infeção em Macau, há duas semanas.
O Governo de Macau adquiriu ao todo 20 milhões de máscaras, que estão a chegar em vários carregamentos, e a serem distribuídas por farmácias convencionadas, associações e outros espaços definidos pelas autoridades. Cada residente, mediante apresentação da identificação, recebe dez máscaras para igual número de dias.
“Se forem necessárias mais máscaras, o Estado [chinês] vai ajudar”, afirmou o líder do executivo de Macau.
Quantos aos desinfetantes, esgotados em Macau, Ho Iat Seng disse que não vai utilizar o mesmo método de racionamento para a população. “Não vamos garantir esse tipo” de produto para a população, afirmou.
“Importante é nos hospitais e lares (…) esses têm de ser garantidos”, frisou, acrescentando terem sido adquiridas quatro toneladas de produtos desinfetantes.
“A prioridade é para os trabalhadores médicos (…) não queremos que médicos e enfermeiros sejam infetados”, reforçou Ho Iat Seng.
A conferência de imprensa para divulgar as medidas excecionais teve lugar no dia em que Macau anunciou ter identificado o 10.º caso de infeção no território e ter admitido a possibilidade de existir um surto comunitário, face ao cenário de um caso de contaminação local.
A China elevou para 426 mortos e mais de 20.400 infetados o balanço do surto de pneumonia no país provocado por um novo coronavírus (2019-nCoV) detetado em dezembro passado, em Wuhan, capital da província de Hubei (centro), que tem cidades sob quarentena, afetando cerca de 56 milhões de pessoas.
Hong Kong anunciou, esta manhã, a primeira morte relacionada com o coronavírus.
O antigo território britânico suspendeu as ligações marítimas com Macau e fechou quase todas as fronteiras terrestres e marítimas com o continente para impedir a propagação do novo coronavírus. Apenas dois postos de controlo de fronteira, a Baía de Shenzhen e a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, vão continuar abertos.
Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais casos de infeção confirmados em 24 países.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na quinta-feira uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional, o que pressupõe a adoção de medidas de prevenção e coordenação à escala mundial.