O município de Vila do Conde, no distrito do Porto, que acolhe uma das maiores comunidades de chineses do país, criou um grupo de trabalho multidisciplinar para agir localmente caso se verifiquem infeções pelo coronavírus.
A iniciativa partiu da autarquia local, que hoje reuniu as várias entidades que integram o sistema de proteção civil, representantes da comunidade chinesa local e responsáveis de estabelecimentos escolares e unidades de saúde.
"Sem alarmismo, foi constituído um grupo de trabalho para agir caso surja uma suspeita ou um foco da doença no concelho. É apenas uma ação preventiva, porque temos de seguir os protocolos a nível nacional. Ações avulso não funcionam", disse Elisa Ferraz, presidente do Câmara Municipal.
Numa reunião onde participou o presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, a autarca partilhou a preocupação por uma eventual discriminação que possa surgir contra os cidadãos chineses radicados no concelho, apelando que "tal deve ser evitado".
"Felizmente não temos conhecimento que isso esteja a acontecer, mas temos de acautelar e pôr de lado os olhares discriminatórios sobre pessoas chinesas. Em Vila do Conde esta comunidade foi bem acolhida e, em muitos casos, está integrada na sociedade, com as crianças a estudar nas nossas escolas", disse Elisa Ferraz, estimando em 1.500 os chineses que vivem no concelho.
Elisa Ferraz disse ainda que lhe foram transmitidas, pela comunidade chinesa, algumas preocupações sobre a forma como os receios com o coronavírus têm prejudicado os setores da economia, nomeadamente o comércio, mas vincou que essa não é uma prioridade da autarquia na abordagem ao tema.
"Sei que as repercussões económicas podem ser um problema, mas a nossa preocupação é com a população em geral e com a saúde pública. Tudo o resto é secundário", disse a presidente da Câmara.
Nesta reunião de formalização do grupo de trabalho participou também o delegado de saúde coordenador do Agrupamento dos Centros de Saúde da Póvoa de Varzim/Vila do Conde, que vincou que no concelho o dispositivo está pronto a agir caso se verifiquem casos suspeitos, embora não centrando a questão na comunidade chinesa.
"Não quero centrar a questão nos chineses, pois isso pode levar a fobias raciais e, por outro lado, a um desleixo em relação aos outros possíveis infetados", disse Luís Castro.
O delegado de saúde também não considerou que o facto de o concelho albergar uma das maiores comunidades do país possa deixar Vila do Conde com uma maior exposição ao coronavírus.
"O que nos foi transmitido pela comunidade, é que a maior parte dos chineses radicados na região é oriunda de zonas da China onde o vírus não se tem manifestado. Talvez haja pessoas a vir de sítios mais próximos do que a China e com maior risco de estarem infetadas. Não temos motivos para olhar com receio ou suspeição para esta comunidade", vincou o responsável.
Esta grupo de trabalho, constituído em Vila do Conde para monitorizar e agir em eventuais casos de infeções pelo coronavírus no concelho, reunirá para avaliar as medidas preventivas e delinear estratégias sempre que for necessário.
A China elevou hoje para 362 mortos e mais de 17 mil infetados o balanço do surto de pneumonia provocado por um novo coronavírus (2019-nCoV) detetado em dezembro passado, em Wuhan, capital da província de Hubei (centro), colocada sob quarentena.
Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais casos de infeção confirmados em 24 outros países.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na quinta-feira uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional, o que pressupõe a adoção de medidas de prevenção e coordenação à escala mundial.