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Covid:19 - “Reconstruimos os hospitais sem que se visse de fora “– afirma coordenador grupo controlo infeção e resistência aos antimicrobianos da Luz Saúde  

CANAL S+ / VD
19-02-2021 18:54h

A pandemia da COVID-19 forçou um conjunto de mudanças operacionais no funcionamento dos hospitais portugueses: no domínio das infraestruturas, na organização e na capacidade de resposta dos recursos humanos e técnicos que tiveram de ser reforçados, como explicou ao Canal S+, Carlos Palos, coordenador do grupo de controlo de infeção e resistência aos antimicrobianos da Luz Saúde.

O professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa (UCP) garante que “reconstruimos os hospitais sem que se visse de fora”.

O especialista em Medicina Interna e Intensiva revela que, numa primeira fase, foram criados circuitos para doentes COVID e não-COVID para proteção e segurança dos pacientes, mas também dos profissionais; desenvolvidos novos protocolos de atuação e implementado um reforço das práticas de higienização dos espaços. Graças ao primeiro confinamento, os hospitais ganharam tempo, o que permitiu “redesenharem-se”, de modo a darem a resposta que a população precisava.

Carlos Palos, antigo membro da Direção Nacional do Programa de Prevenção, Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos da Direção Geral da Saúde (DGS) adianta que a crise pandémica serviu, também, para tirarmos lições que serão preciosas num futuro próximo, caso surja uma ameaça semelhante.

Um dos aspetos prende-se com a circulação de ar e a ventilação, “Os hospitais aprenderam que os sistemas de ventilação têm de ser modificados. “, sublinha.

Para antigo Director do Serviço de Urgência Geral do Hospital Beatriz Ângelo, “a estrutura total relacionada, por exemplo, com oxigenoterapia ou sistemas de vácuos para aspirar têm de ser contabilizados de outra maneira”.

De todos os desafios, o humano foi “gigante”, classifica Carlos Palos. Para o coordenador do grupo de controlo de infeção e resistência aos antimicrobianos da Luz Saúde foi preciso “Criar várias equipas, em simultâneo, com as mesmas pessoas significa ter vários hospitais dentro de um só”.

Perante o cansaço extremo e até a exaustão a que chegaram muitos profissionais de saúde com o passar dos meses, a Luz Saúde criou, logo em março de 2020, uma linha de apoio ao colaborador, a funcionar 24 horas por dia, durante toda a semana, permitindo o aconselhamento e esclarecimento de questões clínicas, bem como o devido apoio psicológico.

Perante a escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) registada, no início da pandemia, em Portugal e no mundo, Carlos Palos recorda que foi muito complicado fazer uma gestão de todas as necessidades.

O professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa (UCP) afirma que, perante o pânico instalado na população e nos próprios profissionais, viveram-se dias de “coronóia, uma mistura de coronavírus com paranoia, o que se explica porque sabíamos muito pouco sobre o vírus”.

Segundo o especialista de Medicina Interna e Intensiva, o medo estava de tal forma instalado que, “Os profissionais de saúde queriam sempre usar o máximo da proteção, muitas vezes, sem razão para a sua utilização “, recorda.

A utilização massiva de equipamentos de proteção individual (EPIs), de uso único, em ambiente hospitalar, como máscaras, batas e luvas descartáveis, gerou um aumento exponencial de resíduos biológicos.

Carlos Palos alerta que se “Já por si, a indústria de saúde é altamente poluidora “, a pandemia forçou “as empresas de gestão de resíduos aumentassem a sua capacidade de incineração”.

O coordenador do grupo de controlo de infeção e resistência aos antimicrobianos da Luz Saúde sublinha que se trata de “um enorme acréscimo de custos para os privados e para o Estado”.

Em resultado de toda a crise pandémica da COVID-19, Carlos Palos espera que “o país se reorganize em termos de estrutura do Ministério da Saúde para que as respostas sejam mais coordenadas, mais céleres e mais eficientes”.

O professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa (UCP) espera que as Administrações Regionais de Saúde coordenem efetivamente as respostas a dar.

Carlos Palos é membro do “Professional Affairs Subcommittee e do European Committee on Infection Prevention and Control da European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID)”.

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