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Combate à pior praga de gafanhotos em 70 anos na África Oriental exige 69 ME

LUSA
30-01-2020 23:50h

As Nações Unidas anunciaram hoje que a África Oriental precisa de cerca de 76 milhões de dólares (69 milhões de euros) para combater a pior praga de gafanhotos dos últimos 70 anos e que esse dinheiro é preciso agora.

Segundo a ONU, até ao momento apenas foram mobilizados 15 milhões de dólares (13,6 milhões de euros) para ajudar a controlar a praga que ameaça agravar a situação de fome que já afeta milhões de pessoas no Quénia, Etiópia, Somália e noutros país, disse Dominique Bourgeon, diretor de emergência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), num ‘briefing’ sobre a situação, em Roma.

"(...) Um país que não vê uma coisa dessas há 70 anos não está bem preparado", afirmou sobre o Quénia, o centro económico da África Oriental.

A dimensão da praga de gafanhotos, em parte imputada ao clima em mudança, ameaça espalhar-se para o Sudão do Sul e Uganda, onde as novas chuvas nas próximas semanas vão alimentar a vegetação fresca e uma nova onda de reprodução. Por isso, o surto pode não estar sob controle até junho, época em que o clima mais seco pode chegar, adiantaram as autoridades.

Se até lá o número de gafanhotos não for controlado, poderá aumentar 500 vezes, alertaram especialistas.

Assim, "se o dinheiro chegar depois de abril é, de alguma forma, inútil", afirmou o chefe da FAO Qu Dongyu na mesma ocasião.

Os gafanhotos, movendo-se em enxames de centenas de milhões, já destruíram algumas colheitas. Um representante etíope no ‘briefing’ disse à FAO que alguns agricultores da segunda nação mais populosa de África perderam 90% da sua produção.

Os gafanhotos têm-se movido constantemente em direção ao vale do Rift, o celeiro do país, acrescenta a ONU.

Antes da praga, já quase 20 milhões de pessoas enfrentavam altos níveis de insegurança alimentar em toda a região da África Oriental, há muito afetada por secas e inundações periódicas.

A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, em inglês) alertou, num comunicado divulgado em meados do mês, para o "aumento extremamente perigoso da atividade de enxames" reportado naqueles dias no Quénia.

"Um enxame típico de gafanhotos do deserto pode conter até 150 milhões de gafanhotos por quilómetro quadrado", referiu o IGAD, que explicava que um enxame pode, com o apoio do vento, cobrir entre 100 e 150 quilómetros num dia.

No mesmo documento, o IGAD assinala que um enxame médio é capaz de destruir, num único dia, plantações que permitiriam alimentar 2.500 pessoas.

Considerados uma das mais perigosas espécies de gafanhotos, os gafanhotos do deserto têm afetado regiões na Somália, Etiópia, Sudão, Djibouti, Eritreia, sendo que o IGAD alertou para o perigo de afetar o Sudão do Sul e o Uganda.

As pragas de gafanhotos podem ter consequências devastadoras. Uma das maiores registadas nas últimas décadas, entre 2003 e 2005, provocou prejuízos de mais de 2,5 mil milhões de dólares (2,25 mil milhões de euros) e foram precisos mais de 500 milhões de dólares (450 milhões de euros) para combater a praga que se espalhou por 20 países no Norte de África.

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