O Governo português condena o ataque realizado na quarta-feira à povoação de Bilibiza, no norte de Moçambique, e respetivo instituto agrário, gerido pela Fundação Aga Khan, disse hoje à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Lamentamos e condenamos energicamente o ataque de que foram alvos e vítimas ontem [quarta-feira], no norte de Moçambique, uma escola e um projeto muito importante da Fundação Aga Khan”, afirmou Augusto Santos Silva, lembrando que a fundação está ligada ao Imamat Ismaili, cuja sede é em Lisboa, e “é um parceiro muito importante das autoridades portuguesas, designadamente das autoridades da cooperação”.
O ataque aconteceu pelas 20:00 (18:00 em Lisboa), já durante a noite, a cerca 120 quilómetros a norte de Pemba, capital provincial.
Segundo os relatos de residentes em Bilibiza, ouviram-se tiros e a população começou a fugir para o mato, procurando refúgio para passar a noite, desconhecendo-se a dimensão dos prejuízos ou se há vítimas.
O Instituto Agrário de Bilibiza encontra-se em período de férias letivas.
Exprimindo solidariedade “quer à fundação, quer com as populações locais, quer com as famílias das vítimas do ataque”, o ministro sublinhou que Portugal renova “o apoio às autoridades moçambicanas para fazerem frente a este recrudescimento da violência que se dirige contra pessoas absolutamente inocentes e que ataca projetos muito importantes para o desenvolvimento de Moçambique”.
Segundo Santos Silva, não há, para já, qualquer informação da existência de portugueses entre as vítimas do ataque, que ainda não foi reivindicado.
Ataques armados eclodiram em 2017 na província de Cabo Delgado (norte de Moçambique) protagonizados por frequentadores de mesquitas consideradas "radicalizadas" por estrangeiros, segundo líderes islâmicos locais, que já tinham alertado antecipadamente para atritos crescentes.
Nunca houve uma reivindicação da autoria dos ataques, com exceção para comunicados do grupo ‘jihadista' Estado Islâmico que, desde junho, tem vindo a chamar a si alguns deles, com alegadas fotografias das ações, mas cuja presença no terreno especialistas e autoridades consideram pouco credível.
Os ataques já provocaram pelo menos 350 mortos entre agressores, residentes e militares moçambicanos, além de deixar cerca de 60.000 afetados ou obrigados a abandonar as suas terras e locais de residência, de acordo com a mais recente revisão do plano global de ajuda humanitária a Moçambique das Nações Unidas.
A província de Cabo Delgado é aquela onde avançam as obras dos megaprojetos que daqui a quatro anos vão colocar Moçambique no ‘top 10' dos produtores mundiais de gás natural e onde há algumas empresas e trabalhadores portugueses entre as dezenas de empreiteiros contratados pelos consórcios de petrolíferas.
A onda de violência começou na ponta norte da província, mas o ataque de hoje e outros localizam-se já na zona sul.
As forças de defesa e segurança moçambicanas têm estado no terreno, mas o Presidente da República, Filipe Nyusi, admitiu na última semana que são necessários mais apoios para lidar com o problema.