Satisfeito com a descida progressiva dos números da pandemia da COVID-19, em resultado do segundo confinamento e do encerramento das escolas, o virologista Pedro Simas, do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, explica ao Canal S+ que o SARS-COV 2 “já deve ter mutado em todas as possíveis posições dos seus nucleótidos”.
O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa lembra que “a pressão que o coronavírus tem, é a de competir com ele próprio para a disseminação, dado que 80% da população no mundo, pensa-se que seja não imune ao vírus”.
O especialista afirma que “no Verão a variante 614 tornou-se prevalente e espalhou-se pelo mundo inteiro (…) o que não é um fenómeno novo”, assegura.
Como micro-organismo que é, o SARS-COV 2 vai sempre adaptar-se ao meio ambiente, explica o virologista Pedro Simas garantindo que “é um processo evolutivo que nós não conseguimos parar”. O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que se mantém atento ao fenómeno das variantes do novo coronavírus adianta que às três mutações mais mencionadas – britânica, sul-africana e brasileira – junta-se agora uma quarta – a mexicana. Para o virologista do IMM “Elas surgiram mais ou menos ao mesmo tempo, em continentes diferentes e, por conseguinte, de forma independente. Todas partilham da mutação do aminoácido 501”.
Ao observar o comportamento das estirpes prevalentes a nível global, Pedro Simas mostra-se mais preocupado com a 484 (variante sul-africana), dado que “em alguns estudos através do soro convalescente de algumas pessoas, quando é testado para ensaios in vitro, podemos ver se os anticorpos neutralizam essa mutação”, o que nem sempre tem acontecido.
Ao Canal S+, o virologista revela que “a mutação 484 já apareceu também no Reino Unido e já aparece no backbone do 501. (…) Vai sempre aparecer quer existam muitos ou poucos casos de infeção”, garante o especialista.
Neste momento, com o conhecimento que a Comunidade Científica dispõe baseado nos dados recolhidos um pouco por todo o mundo, Pedro Simas afirma que “não é expectável que nesta fase surjam variantes mais virulentas em termos de doença, mas pode acontecer”, alerta o virologista do IMM que se escusa a comentar com mais detalhes a variante mexicana.
Se por um lado, é possível “corrigir” as vacinas para se tornarem mais efetivas contra as novas variantes do SARSCOV 2; por outro, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa sublinha que “É muito difícil desenvolver moléculas que inibam processos virais específicos, sem inibir processos celulares que sejam essenciais”.
Por tudo isto, o virologista considera “pouco provável” que surja dentro em breve um medicamento antiviral contra o SARS-COV 2, “mas a humanidade está sempre a surpreender-nos”, atesta.
Mesmo no caso de fármacos já existentes, que, nos últimos dias, foram apontados como sendo capazes de produzir uma resposta imunológica à infeção por SARS-COV 2, Pedro Simas tem muitas dúvidas que a sua eficácia e efetividade sejam robustas.
Sobre uma data para Portugal avançar com o desconfinamento da população, o virologista afirma ser necessário ter muita cautela. Um desconfinamento só deve ser pensado quando o país registar menos de 1400 casos por dia de novas infeções por SARS-COV 2; porque só assim seremos capazes de impedir uma quarta vaga. O virologista do IMM da Universidade de Lisboa acredita que dentro de duas a três semanas, o país consiga alcançar os níveis de segurança necessários para que se possa avançar com o desconfinamento geral.