Um médico da Tanzânia que mora em Wuhan criou um grupo de apoio nas redes sociais para os estudantes africanos para mandar informação a 400 compatriotas naquela cidade e a centenas de estudantes africanos na China.
"Eles não fazem ideia do que se está a passar aqui, e juntos somos como uma família", comentou Khamis Hassan Bakari à reportagem da agência Associated Press (AP) sobre o elevado número de africanos que estão 'presos' em Wuhan, a cidade chinesa agora famosa por ser o centro do surto de coronavírus.
"Toda a gente está assustada, com medo de ter de se cruzar com qualquer pessoa", contou o médico de 39 anos e investigador numa universidade desta cidade industrial de 11 milhões de habitantes, agora com ruas desertas e supermercados praticamente vazios.
Bakari é apenas um dos mais de 80 mil estudantes africanos que habitam na China, estando 4 mil deles em Wuhan, num movimento crescente que se explica pelo aumento da intervenção chinesa em África nos últimos anos.
Com milhares de estrangeiros presos em Wuhan, e com os países mais ricos, como os Estados Unidos ou o Japão, a preparem planos de 'resgate' dos seus cidadãos, este médico a tirar a pós-graduação tornou-se um líder para centenas de africanos com poucas hipóteses de beneficiarem do apoio dos seus países para sair da China.
"Sinto-me como se estivesse preso aqui", afirmou um estudante etíope em Wuhan, que deu apenas o seu primeiro nome com medo de represálias por parte das autoridades, um cancelamento da bolsa de investigação ou o corte da internet, uma das medidas com que a administração da universidade ameaçou os estudantes que partilhassem vídeos, fotos ou mensagens no WeChat, a principal rede social chinesa, segundo disse um estudante do Gana à AP.
A África do Sul, a economia mais industrializada no continente, já avisou que não vai retirar cidadãos, ao contrário do rei de Marrocos, que ordenou ao Governo o repatriamento de mais 100 marroquinos que estão em Wuhan.
A situação, contou outro tanzaniano que faz parte deste grupo liderado por Bakari, "é de pânico, principalmente para os africanos mais recentes que ainda não falam chinês".
Bakari contou também que este grupo começou a juntar números de telefone de representantes internacionais em todas as universidades em Wuhan para que os estudantes possam reportar quaisquer faltas de alimentos ou bens, e quais as universidades que são particularmente colaborantes.
"A nossa universidade deu-nos víveres anteontem [domingo]", afirmou, elencando que recebeu duas caixas de chocolates, bolachas, açúcar, azeite e garrafas de água, e que se os estudantes quiserem circular pela cidade têm de receber autorização, primeiro, e acompanhamento durante a saída do recinto universitário.
"Agradecemos muito o que estão a fazer mas na verdade só saímos se for mesmo necessário", concluiu o médico investigador africano.
A China elevou para 106 mortos e mais de 4.000 infetados o balanço do novo coronavírus detetado no final do ano em Wuhan, capital da província de Hubei (centro).
O anterior balanço apontava para 80 mortos e mais de 2.700 infetados.
As autoridades de Pequim confirmaram a primeira morte na capital chinesa de uma pessoa infetada pelo novo coronavírus (2019-nCoV), um homem de 50 anos que esteve na cidade de Wuhan, em 08 de janeiro.
Um primeiro caso confirmado de contaminação com este vírus foi registado na Alemanha esta segunda-feira, o segundo país afetado da Europa, depois de França.
Além do território continental da China, também foram reportados casos de infeção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, França, Alemanha, Austrália e Canadá.
As autoridades chinesas admitiram que a capacidade de propagação do vírus se reforçou.
As pessoas infetadas podem transmitir a doença durante o período de incubação, que demora entre um dia e duas semanas, sem que o vírus seja detetado.
O Governo chinês decidiu prolongar o período de férias do Ano Novo Lunar, que deveria terminar na quinta-feira, para tentar limitar a movimentação da população.