Mais de metade dos doentes renais em hemodiálise inquiridos num estudo apresentam pelo menos uma necessidade, a maioria de apoio material, sendo as pessoas sozinhas, os idosos e os doentes oriundos dos PALOP os que apresentam maior vulnerabilidade.
O estudo “Necessidades e recursos sociais em doentes renais crónicos hemodialisados”, que decorreu em 2017 e envolveu 1.436 doentes de todo o país, a maioria (60,7%) homens, com idades entre os 19 e os 97 anos, visou caracterizar o tipo de necessidades sociais sentidas por estes doentes, assim como a sua provisão por parte do Serviço Social.
Foram sinalizadas 2.550 necessidades junto dos 1.436 participantes ao longo de um ano pelo Serviço Social, refere o estudo realizado por uma equipa de assistentes sociais, em coautoria com a investigadora Sónia Guadalupe do Instituto Superior Miguel Torga.
A maioria dos participantes foi sinalizada por uma necessidade (58,6%), seguindo-se os que apresentaram duas (23,5%), três ou quatro necessidades (13,8%) e cinco ou mais (4,1%), tendo-se registado três casos únicos de doentes com 10, 13 e 15 necessidades.
A sinalização de necessidades foi efectuada ao nível de cinco categorias. Do total dos doentes, 48% apresentaram necessidades de apoio material ou instrumental, 32,2% evidenciaram necessidades de ‘advocacy’(advocacia social) e de intervenção psicossocial, 27,2% solicitaram apoio logístico, 17,8% apresentaram necessidade de integração em resposta social e 10,5% em resposta ocupacional.
“O que quisemos foi perceber o que de facto importa para estas pessoas, quais são as suas principais carências, para podermos, enquanto assistentes sociais, afunilar-nos e melhorarmos a nossa atividade diária e a nossa intervenção com estas pessoas e satisfazer, na íntegra, em conjunto com elas e com a família, as suas reais necessidades”, disse hoje à agência Lusa Marta Olim, uma das autoras do estudo.
Marta Olim adiantou que, dos doentes que necessitavam de apoio material, a maior parte (595) precisa de apoio para prestações pecuniárias, mas também há quem precise de produtos de apoio (73), como uma cama articulada ou uma cadeira de rodas, de apoio habitacional (40), alimentar (39) e de vestuário (10).
“São pessoas que já estavam numa situação de carência social, económica e que a doença e o tratamento vêm de alguma forma agravar esta situação de vulnerabilidade”, explicou a assistente social.
Estes doentes têm “os cuidados de saúde acautelados, têm direito ao tratamento, ao transporte, mas são pessoas que ficam ainda mais vulneráveis” e têm de ser “compensadas do ponto de vista do seu bem-estar e da sua protecção social”, defendeu.
“Não é só aceder a uma prestação social, é por exemplo, ter acesso aos principais direitos e garantias do doente renal crónico, desde a declaração de incapacidade multi-usos, o complemento por dependência e algumas prestações sociais”, exemplificou Marta Olim.
Depois existem as necessidades de intervenção de resposta ocupacional, como, por exemplo, o voluntariado, uma actividade física, uma actividade lúdica, a formação ou o emprego.
Marta Olim realçou o facto de 253 doentes terem pedido apoio para férias, porque “as férias devolvem a normalidade às famílias”.
A necessidade de intervenção familiar foi sinalizada por 418 doentes. “A família também está neste processo de doença e de tratamento tal como o doente, mas com necessidades diferentes, muitas delas com muitos medos, com uma sobrecarga enorme de cuidados, exaustas, confusas, porque o doente tem cada vez mais necessidades do ponto de vista físico, emocional e as famílias também têm, porque passam 24 sobre 24 horas com o doente”, afirmou.
Por esta razão, também precisam de apoio e de “uma ligação privilegiada ao assistente social, ao médico e a toda equipa interdisciplinar”, porque precisam de perceber que “não estão sozinhas no cuidar”.
Segundo o estudo, em 63,4% dos casos a resposta foi adequada, sendo que as necessidades não satisfeitas são por resposta desadequada (6,2%), por inexistência de resposta (5,5%), ou ainda por não adesão do doente (14,1%) ou família (6,1%).
Analisadas as diferenças sociodemográficas, as pessoas viúvas registam um maior número de necessidades, bem como os menos escolarizados -- 49,3% dos participantes tinha o 4.º ano do ensino básico - e as pessoas oriundas dos PALOP, que representam 12,4% do total da amostra.