A mais grave praga de gafanhotos em 25 anos está a afetar a África Oriental, representando uma ameaça para a segurança alimentar em alguns dos países mais vulneráveis do mundo, de acordo com autoridades internacionais.
A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, em inglês) alertou, num comunicado divulgado esta semana, para o "aumento extremamente perigoso da atividade de enxames" reportado nos últimos dias no Quénia.
De acordo com o organismo, um dos enxames então presente no nordeste queniano prolongava-se por 60 quilómetros de comprimento e 40 de largura.
"Um enxame típico de gafanhotos do deserto pode conter até 150 milhões de gafanhotos por quilómetro quadrado", referiu o IGAD, que explica que um enxame pode, com o apoio do vento, cobrir entre 100 e 150 quilómetros num dia.
No mesmo documento, o IGAD assinala que um enxame médio é capaz de destruir, num único dia, plantações que permitiriam alimentar 2.500 pessoas.
Considerados uma das mais perigosas espécies de gafanhotos, os gafanhotos do deserto têm afetado regiões na Somália, Etiópia, Sudão, Djibouti, Eritreia, sendo que o IGAD alerta para o perigo de afetar o Sudão do Sul e o Uganda.
A agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que considera que esta é a pior situação deste género em 25 anos, defende que "as condições climatéricas e meteorológicas incomuns contribuíram" para a situação, incluindo através das chuvas que atingiram a região desde outubro de 2019.
No comunicado, o IGAD acrescenta que pode ser esperado um aumento dos enxames de gafanhotos até junho, tendo em conta "as condições ecológicas favoráveis" à sua reprodução.
As pragas de gafanhotos podem ter consequências devastadoras. Uma das maiores registadas nas últimas décadas, entre 2003 e 2005, provocou prejuízos de mais de 2,5 mil milhões de dólares (2,25 mil milhões de euros) e foram precisos mais de 500 milhões de dólares (450 milhões de euros) para combater a praga que se espalhou por 20 países no Norte de África.
Para evitar e controlar os surtos, as autoridades analisam imagens de satélite, recorrem a pesticidas e conduzem pulverizações sobre as áreas afetadas.
No comunicado, o IGAD aconselha ainda que os territórios afetados apliquem formas de vigilância terrestre, prevejam as rotas dos enxames de gafanhotos e realizem pulverizações aéreas e terrestres, além de sugerir o uso de meios de comunicação, como o rádio, para "disseminar [informação] e educar" os cidadãos.