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Covid-19: Destacado líder indígena brasileiro morreu infetado

LUSA
18-06-2020 09:48h

O líder indígena brasileiro Paulinho Paiakan, um dos maiores defensores da floresta Amazónia, morreu hoje após ser infetado com o novo coronavírus, informou a Articulação de Povos Indígenas do Brasil (APIB).

"Perdemos Benadjyry, nosso Paulinho Paiakan. Pai, líder e guerreiro dedicado às lutas por direitos dos povos indígenas. Seu legado deixa na história e na vida dos povos uma construção de muita força. Reconhecido internacionalmente como grande defensor da floresta e seus povos, Paiakan era uma fonte de inspiração na luta para todos nós", escreveu a APIB na rede social Facebook.

"Hoje, Paiakan se foi, como as centenas de vidas indígenas que estamos perdendo para pandemia da covid-19. É com tristeza e revolta que acompanhamos a perda de tantas vidas. Nossos anciões são sagrados e fonte de sabedoria dos povos indígenas. Nós, da APIB nos solidarizamos com toda a família de Paulinho Paiakan e com o povo Mebengôkre neste momento de perda", lamentou ainda a organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos.

Paiakan, que era sexagenário, morreu após passar vários dias num hospital do estado do Pará (norte do país), uma das unidades federativas brasileiras mais afetadas pelo novo coronavírus.

O líder indígena era uma figura muito respeitada, tendo atuado como árduo defensor da demarcação das terras indígenas e da expulsão de garimpeiros e madeireiros.

Paulinho Paiakan foi ainda um dos indígenas que liderou protestos contra a construção de uma central hidroelétrica em Belo Monte, no Pará, nos anos 1980.

Ao lado do também cacique kayapó Raoni e do músico Sting, Paiakan ajudou a atrair atenção internacional para o custo ambiental e social de se construir aquela hidroelétrica no Rio Xingu, no centro da floresta Amazónia.

Contudo, a vida de Paiakan foi também marcada por polémicas, quando, em 1992, foi acusado de ter violado uma estudante, tendo sido condenado a seis anos de prisão por esse crime, em 1998, segundo a imprensa local.

A pandemia do novo coronavírus penetrou em várias aldeias dos povos originários do Brasil e já causou a morte a centenas de indígenas.

Segundo a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazónia Brasileira (Coiab), até segunda-feira 249 indígenas morreram devido à covid-19 e 3.662 foram infetados, num total de 78 povos atingidos.

Contudo, o Governo brasileiro revelou números bastante inferiores, apontando para a morte de 103 indígenas e para a infeção de 3.079.

A divergência entre os dados do Governo e de entidades indígenas tem sido uma constante desde o início da pandemia, e foi criticada no início do mês pela coordenadora da APIB, Sonia Guajajara.

Segundo Guajajara, o problema na contagem está na forma como o executivo avalia se o cidadão é ou não indígena.

"A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI, tutelada pelo Ministério da Saúde) faz uma seleção de quem eles acham que é indígena e quem não é. Então, eles não registam indígenas que estão em contexto urbano. A própria estrutura da SESAI, sem atendimento próximo a algumas aldeias, faz os indígenas irem para os municípios. Lá, eles entram na contagem normal do município, sem serem considerados indígenas com covid-19", explicou Guajajara.

Na avaliação da coordenadora da APIB, organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos, trata-se da "negação de querer mostrar a situação real".

Na maioria, a população indígena brasileira está distribuída por milhares de aldeias, sendo que grande parte das infeções pelo novo coronavírus foi registada na floresta Amazónia, onde está localizada a generalidade das tribos isoladas.

Uma das principais preocupações das autoridades é a vulnerabilidade das populações indígenas face a doenças respiratórias, o que aumenta o risco de agravamento em caso de contágio pelo novo coronavírus.

O Brasil conta com 45.241 vítimas mortais e já ultrapassou a barreira dos 900 mil casos confirmados de covid-19, totalizando até terça-feira 923.189 pessoas diagnosticadas desde o início da pandemia.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 445 mil mortos e infetou mais de 8,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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