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COVID-19: Azambuja é um dos focos da pandemia na região de Lisboa e Vale do Tejo

CANAL S+ / VD
07-06-2020 01:17h

O alarme soou primeiro na empresa Avipronto, no início de Maio, com vários casos confirmados de trabalhadores infetados pela COVID-19. A empresa de abate de aves chegou a estar fechada com os seus trabalhadores em casa a cumprir quarentena. De seguida, soube-se de outros casos de funcionários na SONAE-MC que emprega na plataforma de distribuição da Azambuja cerca de 3000 pessoas, 700 dos quais dedicadas em exclusivo à parte alimentar, mas não é a única. Na plataforma de distribuição da Azambuja encontramos empresas e grupos tão destacados como a AUCHAN, Jerónimo Martins ou a Luís Simões.

Perante o avanço da pandemia da COVID-19 no município, o presidente da Câmara Municipal da Azambuja, Luís Sousa, sugeriu a criação de um cerco sanitário em redor de um prédio habitado por 6 indivíduos de etnia cigana contaminados pelo vírus. 

As declarações do autarca, eleito pelo Partido Socialista, receberam de imediato condenações por parte de Catarina Martins do Bloco de Esquerda e de total apoio por parte do líder do Chega, André Ventura, que no hemiciclo, durante o debate quinzenal, confrontou o Primeiro-Ministro, António Costa, com a posição do presidente da Câmara Municipal de Azambuja, o socialista Luís Sousa. O líder do Governo explicou em resposta que “qualquer atitude discriminatória” não merece defesa e que, por esse motivo, não está de acordo com o autarca Luís Sousa. Após ouvir as declarações de António Costa no Parlamento, o Presidente da Câmara de Azambuja admite agora abandonar o PS.

Em entrevista ao Canal S+, Bruno Gonçalves, vice-presidente da Associação Letras Nómadas acusa o autarca socialista da Azambuja de ter estigmatizado uma comunidade de forma inadmissível. O dirigente da comunidade cigana recorda que um presidente de câmara têm apenas “munícipes” e lamenta que Luís Sousa se tenha deixado “contaminar” por um discurso racista próprio de outros partidos políticos.

Bruno Gonçalves, vice-presidente da Associação Letras Nómadas relembra que a maior parte dos municípios portugueses não contemplou devidamente nos seus planos de contingência as comunidades ciganas, sobretudo as que vivem em barracas e acampamentos, onde o acesso à informação é limitado, bem como a dispositivos de proteção individual e até a cuidados de saúde. Uma situação “terrível” que já aconteceu em Moura, no Alentejo, em Ovar e agora na Azambuja.

O dirigente da comunidade cigana garante que os seus elementos não são diferentes dos restantes portugueses. “Há obviamente quem cumpra as regras e outros que nem por isso”, afirma Bruno Gonçalves que se mostra, apesar de tudo, bastante satisfeito com a atitude da comunidade cigana. Segundo o responsável pela Associação Letras Nómadas a COVID-19 matou apenas 3 pessoas de etnia cigana e infetou cerca de uma centena em todo o país.  

Bruno Gonçalves garante que a comunidade cigana está agora bem informada sobre a COVID-19, mas o flagelo que mais afeta os seus elementos não é a pandemia, nem os riscos de saúde, mas a crise económica. 

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