O Hospital de São João, no Porto, assinou hoje um protocolo com a Ordem dos Psicólogos que visa avaliar riscos como ‘burnout’ ou depressão que, em 2018, afetavam 67% dos mais de 330 funcionários com "aptidão condicionada" para trabalhar.
Segundo Pedro Norton, diretor do Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ), no universo de 5.519 funcionários que foram avaliados na sua aptidão para o exercício das suas funções, 334 estavam "condicionados", e o nível de absentismo por doença natural abrangia 25% (1.389) do total dos trabalhadores.
"Na nossa instituição [CHUSJ], este número tem vindo a crescer sucessivamente, especialmente fruto do envelhecimento da população. A proporção que tem esta aptidão condicionada foi de cerca de 6%", revelou aquele responsável na sessão de assinatura do protocolo com a Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Entre os motivos que explicam a "aptidão condicionada", destaca-se a patologia musculoesquelética e a patologia do foro psicológico, a segunda maior causa de condicionamentos de trabalhadores, diagnosticada em 67% daqueles profissionais, sendo que a maioria destes (79%) tinha depressão.
Na sua intervenção, Pedro Norton admitiu até que a realidade pode ser "pior" do que a retratada neste levantamento se for tida em linha de consideração a evidência de que "muitos fatores de riscos psicossociais influenciam diretamente a patologia musculoesquelética".
Em declarações aos jornalistas, Pedro Norton referiu ainda que, para além das questões ligadas ao stress excessivo devido ao trabalho – ‘burnout’ -, surgem como riscos psicossociais as situações de perda e luto experienciadas por estes profissionais, o trabalho por turnos, a violência contra profissionais de saúde ou o assédio laboral.
O protocolo assinado hoje visa avaliar os riscos psicossociais dos colaboradores do Hospital de São João, unidade hospitalar que criou, há cerca de um mês e meio, o Serviço de Psicologia e que, segundo o presidente do Conselho de Administração do CHUSJ, Fernando Araújo, "é estruturante".
Fernando Araújo, responsável enquanto secretário de estado Adjunto e da Saúde pelo despacho que instituiu a obrigatoriedade legal da redução dos riscos psicossociais, considerou que a criação deste serviço vai trazer ganhos de eficiência ao nível da intervenção, bem como da melhoria dos serviços prestados aos utentes, cuidadores e profissionais de saúde, refletindo-se também em ganhos de saúde.
"Através deste protocolo (…) pretendemos avaliar estes riscos, desenvolver estratégias para os mitigar, utilizarmos as melhores práticas disponíveis e também avaliar o impacto dessa intervenção em termos de valor para os profissionais (…). Queremos fundamentalmente tratar de quem trata dos outros", disse.
Na sessão desta manhã, o bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Francisco Miranda Rodrigues, sublinhou também a importância desta parceria "histórica", deixando votos para que a mesma seja tomada como exemplo, quer por outros centros hospitalares como por outras instituições públicas.
"É a primeira vez que vemos um assumir de forma tão explicita por parte de um centro hospitalar, por parte de uma instituição pública desta dimensão, sem reservas, passos concretos para avaliar e empenhar na construção de um local de trabalho mais saudável, de forma planeada", frisou.
Para o bastonário há, contudo, ainda muito trabalho a fazer na dimensão das políticas públicas, quer em matéria de disponibilidade e esclarecimentos dos profissionais, quer do ponto de vista da abertura por parte dos decisores políticos e institucionais.
Já o diretor do Serviço de Psicologia do CHUSJ, Eduardo Carqueja, salientou que o plano de ação a implementar será desenvolvido em três níveis: o primeiro centrado na prevenção das pessoas que ainda não estão em risco, um segundo que terá como objetivo mudar a forma como trabalhadores e organizações respondem às exigências da vida da instituição e um terceiro nível focado no tratamento dos funcionários em risco psicossocial.