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Ébola: OMS suspende operações em zonas afetadas pelo vírus após ataques na RDCongo

LUSA
28-11-2019 23:42h

A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou hoje que suspendeu as operações na cidade de Biakato, na República Democrática do Congo, após dois ataques a centros de prevenção do Ébola na região.

A entidade manifestou ainda receio de que o atual surto do vírus de Ébola possa ressurgir por causa da onda de violência em curso na República Democrática do Congo (RDCongo).

O ataque ao campo de prevenção e resposta, em Biakato, na sequência do qual um membro da equipa de vacinação e dois motoristas morreram, fez com que muitos dos funcionários da OMS e outras agências a trabalhar na zona, num total de cerca de 200 pessoas, fossem retirados de Biakato, disse o diretor da organização para emergências na área da saúde, Michael Ryan.

A outra pessoa que morreu na sequência dos ataques de quarta-feira, foi um elemento da polícia, na sequência de uma ação contra uma agência de coordenação de resposta ao Ébola, na vizinha Mangina.

Seis dos feridos, na sequência dos atentados, foram transportados de helicóptero para a cidade de Goma e, embora alguns trabalhadores do campo de Biakato - composto por 189 funcionários da OMS e organizações como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) ou a Cáritas - ainda estejam em atividade, por agora os pacientes terão de recorrer principalmente a profissionais de saúde locais.

"O Ébola estava recuando e agora é provável que ressurja", lamentou o responsável da OMS, que advertiu que o acampamento de Biakato estava a tratar de doentes numa das localidades atualmente mais atingidas pelo surto daquele vírus, Lwemba.

Michael Ryan explicou que as pessoas de Lwemba tinham manifestado relutância em serem tratados em instalações médicas em Biakato, mas nos dias anteriores ao ataque estavam a aceitar, por isso lamentou que, por causa dos atentados, muitos dos progressos nesta área estejam perdidos.

"Foi um dos últimos bastiões do vírus, mas, devido à violência e insegurança, estamos a perder o acesso a este tipo de comunidades", disse o funcionário da OMS numa conferência de imprensa por telefone.

Os ataques são, segundo a OMS, os piores sofridos este ano pelas unidades sanitárias, dependentes desta e de outras organizações internacionais no combate ao surto de Ébola naquela zona, onde este ano ocorreram centenas de incidentes deste tipo, que causaram sete mortos e 77 feridos, recordou Ryan.

Suspeita-se que os responsáveis pelos ataques de quarta-feira sejam os rebeldes Mai Mai, nome dado a uma amálgama de grupos armados que atuam no nordeste do país, lutando contra o governo central e outras milícias.

O atual surto de Ébola, que abalou a RDCongo desde agosto de 2018, já causou 2.199 mortes e infetou 3.304 pessoas, é o segundo pior desde que a doença foi conhecida, superado apenas pela epidemia que atingiu a África Ocidental entre 2014 e 2016.

A OMS tinha atualizado para quatro o número de profissionais de saúde da resposta anti-Ébola mortos na RDCongo em dois ataques armados.

Os ataques ocorreram durante a noite num centro de alojamento em Biakato Mines e no gabinete de coordenação da resposta ao Ébola em Mangina, na província de Ituri (nordeste do país).

"Estamos com o coração destroçado que pessoas tenham morrido no cumprimento do dever enquanto trabalhavam para salvar outros", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

E acrescentou:"O mundo perdeu profissionais corajosos".

"O meu coração está com a família e amigos dos socorristas mortos nesses ataques", disse, por seu lado, Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para África, adiantando que estão a ser desenvolvidos todos os esforços para colocar em segurança os trabalhadores das áreas afetadas.

A mesma responsável regional defendeu que os “ataques constantes devem parar”.

“Continuaremos a trabalhar com o Governo da RDCongo, os parceiros e a MONUSCO [missão da ONU] para garantir a segurança do nosso pessoal e de outros profissionais de saúde", frisou.

A OMS adiantou que, na última semana, houve sete casos de Ébola, abaixo de um pico de mais de 120 registado por semana em abril.

Pelo menos 19 civis foram mortos num ataque do grupo armado autodenominado Forças Democráticas Aliadas (ADF) perto de Beni, leste da RDCongo, realizado dois dias depois de outro ataque à missão das Nações Unidas no país.

Desde que o exército congolês começou uma operação contra os rebeldes ugandeses, no princípio do mês, as ADF mataram dezenas de pessoas em ataques sucessivos, o que motivou protestos entre os civis que não se sentem seguros e acusam a Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO) de inação.

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