A Autoridade de Saúde Regional dos Açores está a avaliar a necessidade de reforço de meios dos serviços de saúde para dar resposta a uma eventual segunda vaga do surto de covid-19.
“Pese embora nesta primeira vaga a nossa capacidade assistencial, nomeadamente ao nível das unidades de internamento da região, tenha ficado felizmente muito aquém daquilo que eventualmente poderia ser esperado, a verdade é que não podemos descansar e tudo aquilo que possamos melhorar, em termos de maximizar e potenciar essa capacidade, iremos fazê-lo”, avançou o responsável da autoridade.
Tiago Lopes, que é também diretor regional da Saúde, falava, em Angra do Heroísmo, no ponto de situação diário sobre a evolução da pandemia de covid-19 nos Açores.
O responsável sublinhou que o comportamento do novo coronavírus é “surpreendente em determinados aspetos” e que a região deve preparar-se para uma segunda vaga do surto.
“Não sabemos se numa segunda vaga virá com outras características para as quais possamos não estar neste momento devidamente despertos e para as quais temos de estar preventivamente acautelados”, afirmou.
Os Açores não registam novos casos positivos de infeção pelo novo coronavírus há seis dias.
Tiago Lopes disse estar “expectante” de que não surjam novos casos nos próximos dias, ainda que tenha admitido a possibilidade de surgirem outros utentes ou funcionários do lar da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste, na ilha de São Miguel, infetados.
“Os casos que possam vir a surgir estão circunscritos àquele contexto em específico, não são de âmbito comunitário”, apontou, salientando que não existem “novas cadeias de transmissão” nos Açores.
Questionado sobre um possível levantamento de medidas restritivas, face ao fim do estado de emergência no país, Tiago Lopes disse que “a seu tempo” serão anunciadas.
“Teremos um longo percurso e um longo caminho ainda pela frente, apesar da evolução do surto aqui na região, mas não podemos diminuir a nossa atenção e o nosso alerta coletivo e individual relativamente ao surto pela covid-19. Não invalida que esteja a ser ponderado o levantamento de algumas medidas mais restritivas que foram implementadas ao longo das últimas semanas, prova disso é o roteiro que está neste momento em consulta pública”, afirmou.
Ainda assim, reiterou que o cumprimento das medidas de distanciamento físico, etiqueta respiratória e higienização das mãos serão “preponderantes” para o levantamento de restrições e para a prevenção de uma segunda vaga do surto.
Confrontado com um estudo, a publicar na revista científica da Ordem dos Médicos, que aponta para um aumento de 4.000 óbitos em Portugal, no período entre 01 de março e 22 de abril, e questionado sobre esses dados nos Açores, o responsável da Autoridade de Saúde Regional declarou que “é difícil fazer esse comparativo de forma tão direta e tão taxativa”.
“Carece de algum aprofundamento e não pode ser visto de forma tão genérica como à primeira vista tem sido encarado. Temos de analisar muito bem os dados e toda a informação que temos vindo a recolher ao longo das últimas semanas e dos últimos meses, quer além-fronteiras, quer dentro do nosso país e na região, para tirarmos as devidas ilações para acautelarmos uma eventual segunda vaga”, afirmou.
Do mesmo modo, disse ser difícil estabelecer a causalidade direta dos óbitos registados na região em doentes com covid-19.
“Não invalida que façamos a seu tempo essa avaliação de todas as relações causais que possam estar associadas a estes óbitos, no sentido de melhor conhecermos as circunstâncias em que ocorreram”, acrescentou.
Desde o início do surto foram confirmados 138 casos da covid-19 nos Açores, 90 dos quais atualmente ativos, tendo ocorrido 37 recuperações (23 em São Miguel, oito na Terceira, cinco em São Jorge e uma no Pico) e 11 mortes (em São Miguel).
A ilha de São Miguel é a que registou mais casos (100), seguindo-se Terceira (11), Pico (10), São Jorge (sete), Faial (cinco) e Graciosa (cinco).
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 212 mil mortos e infetou mais de três milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em Portugal, morreram 948 pessoas das 24.322 confirmadas como infetadas, e há 1.389 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.