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Covid-19: Não descure de uma alimentação saudável 

Canal S+ / LP
28-04-2020 19:40h

A pandemia que atravessamos trouxe grandes alterações nas nossas vidas e a alimentação não é exceção. As medidas que tiveram de ser tomadas, como o confinamento social, fizeram alterar rotinas, hábitos e pode, em alguns casos, disparar o sedentarismo. Em entrevista ao S+, Maria João Gregório, Diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) da Direção-Geral da Saúde, explica as respostas que foram dadas nesta área e deixa alguns conselhos úteis para toda a população.

Com as idas reduzidas aos supermercados, o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, numa primeira fase, procurou antecipar as necessidades da população e ajudar no planeamento de compras para um maior número de dias, bem como sugerir quais os produtos que podem ou não estar presentes na hora de encher o carrinho. Apesar do conselho para reduzir as saídas em busca de bens de primeira necessidade, de forma a evitar o ajuntamento de pessoas, Maria João Gregório, afirma que não há “razão para deixarmos os frescos de lado” como os produtos hortícolas e frutas, “que são tão importantes nesta fase”.

A nutricionista reforça os princípios de uma alimentação saudável - completa, equilibrada e variada -, tal como recomenda a roda dos alimentos. Para isto é importante manter uma adequada ingestão de fruta e hortícolas que, como refere, “pode ser mais fácil de atingir do que o que parece”. Para isso, basta consumir sopa no início das duas refeições principais e três peças de fruta ao longo do dia e, depois de cumprir este objetivo está já a atingir “aquela que é a recomendação da Organização Mundial da Saúde”.

Os snacks com elevada densidade energética e com grande quantidade de sal, açúcar e gordura que podem estar, nesta altura, mais disponíveis nas despensas dos portugueses não são aconselhados. “Não ter é a melhor estratégia para evitar o seu consumo”, realça Maria João Gregório, Diretora do PNPAS.

De todas estas recomendações, a importância da hidratação não pode ser esquecida, no entanto, esta não pode ser feita através de bebidas que contenham excesso de açúcar. A nutricionista avisa ainda que “ter uma alimentação saudável é importante mas não há soluções milagrosas para prevenir ou tratar a covid-19.”

“Apesar de não haver nenhum alimento ou nutriente que possa ser destacado como sendo importante para reforçar o sistema imunitário, em contrapartida, sabe-se que um mau estado nutricional e a falta de uma alimentação adequada, pode comprometer o nosso sistema imunitário”, avança.  Este cuidado passa a ser particularmente relevante para os grupos de risco para a covid-19 – idosos, grupos de população com doenças crónicas como a obesidade, a diabetes e a hipertensão. 

“Ajustar a alimentação a um estilo de vida mais sedentário” e “otimizar o estado nutricional, por via de uma alimentação saudável, pode ser muito importante para ajudar a estarmos mais preparados, caso no futuro possamos vir a ser infetados pelo novo coronavírus”, conclui.

Todos os nutricionistas estão, atualmente, com um modelo de trabalho diferente do habitual. Os que se encontram nos cuidados de saúde primários estão em teletrabalho, porém, o acompanhamento aos doentes, com recurso a teleconsultas, continua a ser realizado. Nos cuidados hospitalares, estes profissionais estão no terreno para apoiar os doentes com covid-19 e têm desempenhado um papel fundamental, em particular, no caso do doente crítico.

Segundo a diretora do PNPAS,  “todos os nutricionistas estão adaptar-se e estão a conseguir dar resposta em função daquelas que são as necessidades e os constrangimentos atuais”.

A Direção-Geral da Saúde lançou, recentemente, um inquérito para avaliar os hábitos alimentares e de atividade física, neste período de isolamento social. Os dados serão lançados em breve e vão, não só, permitir fazer um diagnóstico da situação atual, como ajudar a antecipar, com base em evidências, aquela que vai ser a atuação futura destes profissionais de saúde junto da população e se as estratégias que estão a ser seguidas, estão ou não a ser as mais adequadas.

“O investimento na área da saúde pública e nesta área da promoção da alimentação saudável, através da implementação de medidas que possam tornar toda a oferta alimentar mais saudável, vão sair reforçadas desta situação”, e vão surgir deste inquérito “dados e números que vão forçar a trabalhar ainda mais nesta área”, aponta.

Se nos últimos anos se tem assistido, por falta de tempo, a um distanciamento daquela que é a alimentação saudável, esta pode ser uma oportunidade para todos repensarmos os hábitos que temos tido até agora. A nutricionista destaca a importância de envolver as crianças e os grupos mais jovens no planeamento e na confeção dos alimentos, em tempos de pandemia.

A DGS desenvolveu um manual sobre os os cuidados alimentares e atividades para crianças em tempos de COVID-19 de fácil acesso a toda a população porque, segundo Maria João Gregório, a “melhor forma de fazer educação alimentar é envolver as crianças nestas atividades mais práticas e assegurar que estas têm um papel mais ativo em todo este processo. Este tempo que temos a mais, pode ser sem duvida uma oportunidade para explorar estas áreas que, até agora não eram tão valorizadas”.

Portugal contabiliza 948 mortos associados à covid-19 em 24.322 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da DGS sobre a pandemia divulgado hoje.

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